quarta-feira, 30 de maio de 2012

A quem possa interessar...


«a Priberam disponibiliza, em serviço gratuito on-line, o corrector ortográfico e o corrector sintáctico (apenas com sugestões, sem explicação gramatical dos erros) para português europeu, para português do Brasil e para espanhol. Em ambas as variedades da língua portuguesa é possível usar as versões com e sem o Acordo Ortográfico de 1990. A partir da janela disponível no ecrã, o utilizador pode digitar as palavras ou as frases (até ao limite de 3000 caracteres) sobre as quais tem dúvidas, seleccionar a língua que pretende e visualizar as correcções propostas.»

Concordância do verbo com o sujeito



«Tal como acontece na concordância entre substantivos e adjectivos, a concordância entre sujeito (que pode ser composto por vários nomes) e verbo é regida por uma regra geral que diz que o verbo concorda com o nome em género e número.


No entanto, podem surgir várias excepções e casos duvidosos. Normalmente estes casos devem ser regidos pelo princípio de querermos dar um traço de unidade ou diversidade ao sujeito. Na seguinte lista indicamos alguns casos que podem levantar dúvidas:

1) Quando o sujeito é composto por dois ou mais nomes ou pronomes no singular, e quando estes vão para antes do verbo, este vai para o plural (Ex.: O João, a Maria e o Rodrigo vão à escola).

2) Se o sujeito for composto por pronomes pessoais diferentes, a 1.ª pessoa prevalece sobre as restantes e a 3.ª pessoa normalmente prevalece sobre a 2.ª (Ex.: Tu e ele vão correr).

 
3) Se o verbo estiver anteposto a um sujeito composto por vários nomes, o verbo pode ir no singular (Ex.: Está a crescer o analfabetismo e a pobreza).

 
4) Se o verbo estiver antes do sujeito e o primeiro elemento do sujeito for singular, o verbo pode ficar também no singular (Ex.: Apareceu o Miguel e os irmãos).

 
5) Quando o sujeito é composto por vários nomes no singular que exprimem a noção de gradualidade ou que, de alguma forma, revelam unidade semântica e não são unidos pela conjunção e podem ser associados a um verbo no singular (Ex.: Essa revolta, fúria, raiva, será a tua perdição).

6) Se o sujeito traduzir uma pluralidade de elementos abrangidos por termos como nada, ninguém, tudo, isso, isto, aquilo, o verbo vai para o singular (Ex.: A escova, a roupa, o dinheiro: tudo está dentro da mala).

7) Quando há vários nomes mas o verbo afecta apenas um destes, o verbo fica no singular (Ex.: O João ou o Frederico vai tratar do assunto).

8) Se o sujeito for composto de elementos unidos por com, o verbo vai para o singular, se for anteposto ao sujeito, e para o plural, se for posposto (Ex. Chegou o João com a Maria / O João com a Maria encontraram-nos).


9) No caso de nem ou ou, o verbo fica no singular, se a acção se refere apenas um dos elementos do sujeito (Ex.: Nem o presidente nem o primeiro-ministro esteve presente), ou fica no plural, se abranger ambos os sujeitos (Ex.: O Nelson ou o Marco podem ficar cá em casa).


10) O sujeito composto por infinitivos leva sempre o verbo no singular (Ex.: Ir e vir é um saltinho).

 
11) A expressão um dos que é acompanhada do verbo no plural (Ex.: Ele foi um dos que sobreviveram ao desastre).

 
12) Quando os dois sujeitos partilham claramente a mesma identidade, o verbo normalmente vai para o singular (Ex.: Clark Kent e o Super-homem é uma e a mesma pessoa).

 
13) Numa oração relativa introduzida por quem, o verbo vai para a 3.ª pessoa do singular (Ex.: Foram vocês quem agrediu o Zé?). Mas se for usado o pronome que, o verbo concorda com o antecedente (Ex.: Foram vocês que agrediram o Zé?). No entanto, se o antecedente de que for uma expressão partitiva, o verbo vai para a 3.ª pessoa do plural (Ex.: Tu és um de muitos que ficaram para trás.)

 
14) Nas orações impessoais, os verbos ser e parecer concordam com o predicativo (Ex.: São nove horas).


15) O sujeito composto constituído por mais de uma oração não implica a concordância verbal no plural (Ex.: Quem já está e quem está para chegar vai ter de esperar).»

Regras de translineação



«(...) [T]ranscrevo – acrescentando à grafia de alguns vocábulos no Brasil a forma adoptada em Portugal – as regras enunciadas no dicionário brasileiro Michaelis.
Entre os dicionários que conheço, este é o único que indica a divisão de cada palavra adaptada às necessidades de translineação.
Por exemplo: as sílabas de carro são ca-rro (o dígrafo rr equivale a uma consoante). Mas, na mudança de linha, deve ficar um erre no final da linha e o outro erre no início da linha seguinte.
"Na modalidade escrita, indicamos a divisão silábica com o hífen. Esta separação obedece às regras de silabação.
Não se separam:
  1. as letras com que representamos os dígrafos ch, lh e nh:cha-ma, ma-lha, ma-nhã, a-char, fi-lho, a-ma-nhe-cer;
  2. os encontros consonantais que iniciam sílaba:;a-blu-ção, cla-va, re-gra, a-bran-dar, dra-gão, tra-ve;
  3. a consoante inicial seguida de outra consoante:gno-mo, mne-mô-ni-co (no Brasil) / mne-mó-ni-co (em Portugal), psi-có-ti-co;
  4. as letras com que representamos os ditongos:a-ni-mais, cá-rie, sá-bio, gló-ria, au-ro-ra, or-dei-ro, jó-ia, réu;
  5. as letras com que iniciamos os tritongos:a-güen-tar (no Brasil) / a-guen-tar (em Portugal), sa-guão, Pa-ra-guai, u-ru-guai-a-na, ar-güiu (no Brasil) / ar-guiu (em Portugal), en-xá-guam (no Brasil) / en-xa-guam (em Portugal).
Separam-se:
  1. as letras com que representamos os dígrafos rr, ss ,sc, sç, xc:
    car-ro, pás-sa-ro, des-ci-da, cres-ça, ex-ce-len-te;
  2. as letras com que representamos os hiatos:
    sa-ú-de, cru-el, gra-ú-na, , re-cu-o, vô-o (no Brasil) / vo-o (em Portugal);
  3. as consoantes seguidas que pertencem a sílabas diferentes:
    ab-di-car, cis-mar, ab-dô-mem (no Brasil) / ab-dó-men (em Portugal), bis-ca-te, sub-lo-car, as-pec-to."»
In http://ciberduvidas.pt/pergunta.php?id=4760 (30/5/2012)


Diário de bordo (Cristiana Gonçalves)


13 de Dezembro de 1521,



Já no cais, a despedirmo-nos de tudo e todos - pois estamos de partida para uma viagem de descobertas e novas aventuras, com muita tripulação, uns navios com mais, outros com menos -, mas íamos em grande número.
Espera-nos uma grande aventura, com momentos terríveis, outros inesquecíveis. Tenho a noção, como o resto da tripulação, que nem todos podemos chegar ao fim da viagem, pois o que nos espera no mar não é nada bom.


15 de Dezembro de 1521,


De manhã, depois de termos dormido mal, ainda acordámos com um cheiro a rum, pois alguns da tripulação deram para embriagar-se.
Passámos uma tarde terrível, demos com criaturas terríveis e estranhas que nos danificaram o barco e alguns da tripulação caíram ao mar sem nunca mais serem vistos, mas tivemos de continuar, apesar de ser difícil.
31 de Dezembro de 1521,

Estamos no final do mês de Dezembro, mas ainda nos falta muito para acabar a viagem. Em menos de um mês já perdemos muitas pessoas, ou com tempestades gigantes, ou com acidentes. Apesar de irmos devagar, já fizemos um terço da viagem, estando a ir a um passo bom, apesar das desgraças, de mortes e de perdermos muitas das embarcações.

(Texto submetido a correções pontuais)
 








terça-feira, 29 de maio de 2012

Bocage, a série

Pré-romantismo de Bocage

«
No aspecto semântico muito mais do que na forma, deixa Bocage entrever na sua obra um substrato romântico que aflora de vez em quando, com sensível nitidez, à superfície de numerosas composições. Isto dá-se sempre que o Poeta manifesta:
1. um sentido agudo da sua personalidade, que o leva a retratar-se, a ver-se nascido sob o signo da infelicidade, a ter remorsos e horror ao aniquilamento, a querer redimir a vida com a morte, a comprazer-se em tumultos interiores;
2. uma melancolia enfermiça, um pessimismo e um desespero vizinhos do desejo do suicídio;
3. o amor à liberdade, a inadaptação ao ambiente quê o cerca, a ponto de querer um mundo imaginado a seu bel-prazer;
4. a crença em pressentimentos e agouros, a fidelidade aos impulsos dos sentidos e afectos;
5. a fascinação da penumbra tumular, do crepúsculo, da treva, do macabro, da paisagem tipo «belo horrível»;
6. um erotismo ora histérico até ao desespero, como quando grita:
Eu louco, eu cego, eu mísero, eu perdido,

de ti só trago cheia, ó Jónia, a mente,

do mais e de mim mesmo ando esquecido;
ora doce e lânguido, como quando geme:

Urselina gentil, benigna e pura,

eis nas asas subtis de um ai cansado

a ti meu coração voa, alagado

em torrentes de sangue e de ternura...»

Manuel Maria Barbosa du Bocage



«O maior poeta do século XVIII português foi Manuel Maria de Barbosa du Bocage, émulo de Camões na vida e na obra. Nasceu em Setúbal, em 1765. Cedo, apaixona-se por Gertrudes (que aparece como Gertrúria em sua poesia), mas resolve alistar-se na Marinha de Guerra, em 1783. três anos depois, embarca na nau "Senhora da Vida", em viagem para Goa. Faz escala no Rio, onde se regala em festins e amores tropicais. Chegado à Índia, o tempo começa a correr-lhe bem: é promovido a tenente e mandado a Damão, mas deserta, levado por amavios de baixos amores. Em 1789, segue para Macau e, no ano seguinte, para Lisboa. Ao chegar, sabe com tristeza que Gertrudes se casara com seu irmão. Desgostoso, entrega-se a uma vida desregrada e boémia, ao mesmo tempo que frequenta a Nova Arcádia. Em 1797, é preso e condenado a receber doutrina dos oratorianos. Livre, passa a viver de traduções e tarefas similares. mas novas desgraças o espreitam, como a doença, paixões infelizes, tormentos da sensibilidade; recolhe-se ao leito, à espera do fim, que chega a 21 de Dezembro de 1805. Morre na miséria e arrependido. Seu pseudónimo arcádico era Elmano Sadino, formado com as letras do seu prenome e do rio Sado, que banha Setúbal.
Em sua vida, Bocage publicou Idílios Marítimos recitados na Academia das Belas-Artes de Lisboa (1791) e as Rimas (3 vols., 1791, 1799, 1804). Postumamente, com o título de Obras Poéticas, saíram mais dois volumes (1812 e 1813), e de Verdadeiras Inéditas Obras Poéticas, um. volume (1814). Em 1853, Inocêncio Francisco da Silva publicou-lhe as Poesias, em seis volumes, considerada a melhor edição do espólio poético bocageano.
Existem dois Bocages: o que o vulgo fixou através de anedotas, verdadeiras algumas e falsas outras, mas todas raiando na obscenidade grosseira, e o que a tradição literária nos legou.
Este é que importa, pois o primeiro segue trajectória secundária e infensa a qualquer configuração, visto o povo atribuir-lhe todos os ditos picantes que, não tendo paternidade conhecida, devem forçosamente pertencer a alguém. Desse ângulo, seu nome tornou-se mítico ou ao menos proverbial, decerto representando um tipo chocarreiro universal.
O segundo Bocage escreveu uma vasta obra poética fraccionada em dois sectores fundamentais: o satírico e o lírico. Quanto ao primeiro, Bocage alcançou ser estrela de primeira grandeza, ao lado dum Gregório de Matos, graças ao temperamento agressivo, impulsivo, cortante, amparado no dom da improvisação feliz e certeira. Contudo, a sátira ocupa lugar menos relevante em sua obra, seja porque de cunho pessoal e bilioso, seja porque dura tanto quanto o acontecimento que lhe dá causa e sentido. Exemplo característico do seu poderio satírico é a "Pena de Talião", em resposta a José Agostinho de Macedo.
Todavia, é na poesia lírica que o talento bocageano se realizou de modo particular. Cultivou a lírica elegíaca, a bucólica e a amorosa, exprimindo-as em idílios, odes, epigramas, cantatas, elegias, canções, epístolas, cançonetas, sonetos, etc. nos poemas longos, salvo contadas excepções, Bocage não se realiza plenamente: talvez porque, neles, fosse compelido a enquadrar-se dentro do convencionalismo neoclássico, ou porque exigissem um fôlego muito mais amplo do que lhe era permitido pela baixa rotação de seu mundo interior. De qualquer forma, tais composições inibiram, em vez de estimularem, o voo poético a Bocage: as normas arcádicas enrijeciam-lhe demasiadamente o verso e coarctavam-lhe a inspiração.
Os sonetos contêm, na verdade, o mais alto sopro de seu talento lírico, a tal ponto que Bocage vem sendo invariavelmente considerado um dos três maiores sonetistas da Língua, ao pé de Camões e Antero. É do primeiro que aprende a lição referente ao corte do soneto, mas acrescenta-lhe.novos dados de pessoal e singular intuição lírica: certo irracionalismo; estertores, confissões dramáticas de experiências vivas na carne lacerada, utilizando uma adjectivação subjectiva, diabólica, teatral, próxima da alucinação ("negras fúrias", "baça tristeza", "voraz dente", "mortíferos venenos", etc.); um ar anti-discursivo, que por vezes descamba no prosaísmo ou em soluções quotidianas e coloquiais. Com efeito, Bocage desembaraça a poesia, notadamente o soneto, das peias que a sufocavam antes, emprestando-lhe uma dicção fluente, vizinha da fala diária, obediente a uma lógica da emoção, que organiza os versos numa ordem directa, natural, em oposição à sintaxe arrevesada e tortuosa que florescia anteriormente, inclusive na pena de um Camões. Nítido rasgo de autonomia, aglutina-se com perfeição à tendência para exprimir uma sensibilidade encravada na "reportagem" do dia-a-dia, mas fascinada pela contemplação das alturas. Dessa polaridade nasce a tensão que torna o lirismo bocageano o mais original e forte de seu tempo, e prelúdio da modernidade romântica. Mais do que o restante da obra, os sonetos documentam-lhe a vida por dentro e por fora: testemunhos de suas andanças e tormentos de alma, constituem verdadeiras páginas de um diário íntimo, peculiaridade que os torna predecessores dos sonetos metafísicos de Antero, pelo pessimismo intrínseco e pela constante presença da morte.
Daqui decorre a primeira nota marcante da poesia lírica de Bocage: o seu pessoalismo. Com efeito, superando as regras e as coerções literárias e sociais ligadas ao movimento arcádico, a poesia bocageana identifica-se por um rebelde libertarismo emocional, às vezes violento e gritante, às vezes calmo e idealista. É fácil compreender que esse timbre de impulsiva origi-nalidade, fruto de especiais condições de temperamento, educação e. vida, guarda uma grande novidade para o tempo: talvez se possa dizer que Bocage anuncia o fim dos falsos pressupostos de nobreza artística, o fim da hipocrisia em arte (evidente em toda a cultura anterior, dissociada do homem em particular e em geral, e escrava de regras fixas e hipócritas, porque impedia que indivíduo e artista formassem uma única entidade na mesma pessoa).
Entretanto, como era inevitável, Bocage deixou-se contagiar pelo movimento literário vigente, mas com uma sinceridade de tal modo autêntica e convicta que lhe permitirá mudar de rumo no instante preciso. Por ser uma adesão de dentro para fora, quando foi o momento de buscar novos caminhos, não titubeou em fazê-lo, embora tanto lhe custasse, pois assumiu atitudes desabusadas que acabaram provocando impactos dolorosos nos padrões burgueses do tempo. Em resultado dessa metamorfose, pode-se falar em duas fases, ou maneiras, percorridas pela poesia lírica de Bocage.
A primeira fase, ou maneira, da poesia bocageana marca-se pelo influxo maior das regras e convenções trazidas pelo neoclassicismo arcádico, sintetizadas no culto do Fingimento e da Dependência, como o próprio poeta declara no soneto "Incultas produções da mocidade", que utilizou como uma espécie de prólogo às Rimas. Então, amargando amores infelizes (incluindo o desgosto de ver Gertrudes casada com seu irmão Gil), o poeta cerca-se de imagens mitológicas e clássicas, numa flagrante transposição de seus infortúnios: o mundo povoa-se de alegorias e o poeta arcadiza seus sentimentos: "Olha, Marília, as flautas dos pastores / Que bem que soam, como estão cadentes! / Olha o Tejo, a sorrir-se! Olha, não sentes / Os Zéfiros brincar por entre as flores?".
Concomitantemente, vão-se evidenciando longos debates entre a Razão (que o levaria para o bem) e o Sentimento (que o levaria para desatinos), num movimento oscilatório que resulta por certo de profundas causas pessoais e de causas gerais, pois começava a descombinar com os novos ares culturais de influência anglo-saxónica o gélido artificialismo arcádico. Não há dúvida que muito da contenção interior própria desse primeiro Bocage vem de ele, impelido pelo Fingimento e pela Dependência, ter aceitado o jugo do racionalismo clássico: não obstante o fizesse com sinceridade, "errou" ao violentar-se interiormente, e disso se penitenciará no futuro. Di-lo, já nesse estágio, a "dilaceração" permanente em que anda, agitado por uma angústia emocional que promana não só do seu caso amoroso, mas também da luta empreendida para quebrar a crosta da afectação clássica e permitir que venha à luz todo o seu alanceado mundo interior. Portanto, apesar dos condimentos clássicos já petrificados e de função mais decorativa, observa-se o "eu" do artista a impor-se tumultuoso e quente contra a impessoalidade, e mesmo a teatralidade e o fingimento, da poesia arcádica. É que o Fingimento e a Dependência se referem à sujeição fortuita de Bocage ao doutrinal arcádico: nos sonetos em que celebra Marília (por exemplo: "Marília, nos teus olhos buliçosos"), o "festival contentamento", provindo do amor pela musa e pelo encontre com a Natureza, esconde ou adia o sofrimento íntimo e verdadeiro do poeta, expresso noutros poemas (inclusive dedicados a Marília, como o que se inicia com o verso: "Minha alma se reparte em pensamentos"), em que a pose arcádica se dissipa em favor da confissão atormentada, depressiva e lúgubre.
Superadas as ténues sujeições neoclássicas, Bocage põe-se diante dum espelho, sozinho, fazendo-se espectáculo de si mesmo. Poesia da confissão e da emoção, eis o que emerge da nova equação armada: surgem agora as notas mais agudas e os temas carregados de mais dramaticidade na trajectória literária bocageana. Ao sentimento de desamparo por falta de afectos seguros e de certezas religiosas para substituir o Fingimento da juventude, soma-se a grande tragédia da solidão inexorável em face da Natureza e do Mundo. A solidão existencial e profunda do género humano é agora tema constante, a cuja dolorosa especulação se acrescenta a sondagem no mistério da morte. Esta, torna-se-lhe ideia fixa e tema igualmente contínuo em sua poesia: e a ela se junta a descoberta e fruição do mundo tenebroso dos horrores, novidade que o seu auto-escavamento frenético desvenda masoquistamente (cf. soneto "Õ retrato da Morte!, ó Noite amiga").
Poesia nocturna e soturna, correndo na esteira de igual tendência da poesia inglesa contemporânea, de que Young era figura de primeira plana, liga-se a temas de pessimismo e fatalismo: para Bocage, o Fado, entendido como irracional predestinação, determinou-lhe uma vida inteira de inarredáveis sofrimentos morais e físicos.
É agora, nessa poesia madura e de auto-análise, que Bocage alcança o máximo de seu potencial lírico, graças ao singular poder transfigurador que não recorre às ficções mitológi-cas nem às regras clássicas, mas, sim, procura expressões novas para transmitir os achados interiores que dramaticamente vai efectuando no correr do tempo.
Tem-se a poesia da confissão, da carpidação, do arrependimento, resultante da contempla-ção do "eu" a si próprio, numa dor perene, acima de qualquer contingência externa. Aqui, Bocage atinge acentos típicos da mais elevada poesia, pela purificação da sensibilidade, pela tensão dramática, pela sinceridade autobiográfica do sofrimento moral transposto em arte, pela sondagem interior processada quase sem os entraves da consciência, e, por fim, pelo encontro feliz de soluções expressivas que não ficaram totalmente desconhecidas ao longo do século XIX. A grandeza dessa poesia demonstra-se pelas epístolas a Gertrúria, a Josino e a Ursulina, e especialmente pelos sonetos, dos quais valia a pena lembrar os dois que levam o título de "Adeus, ó mundo, ó natureza, ó nada".
Note-se, ainda, que o lirismo de Bocage se elabora entre duas forças complementares: o subjectivismo ególatra, que o arrasta a revelar eruptivamente seu "eu" angustiado, e o uni-vetsalismo, que não advém de influências clássicas, senão do desenvolvimento, da amplifi-cação ao nível cósmico, das torturas interiores. Nesse pólo, o "eu" volve-se "Eu" ou "Nós" à custa de levar a auto-sondagem ao limite extremo. De onde Bocage permanecer lírico, embora de superior grandeza, quando apenas oferece ao leitor o espectáculo tenebroso de seu "eu", e ascender para a dimensão de épico quando universaliza, por meio da reflexão, da "sentença" que coroa os sonetos, os conteúdos de sua individualidade encarcerada. A segunda faceta assinala a presença da Razão, a primeira, do Sentimento: como este vence aquela, a excursão épica somente se realiza até certo ponto, e o poeta avança para o Romantismo.
Facilmente se conclui que o Bocage dessa fase ou maneira é todo ele pré-romântico, e é assim que deve ser considerado. Para ser integralmente romântico, faltou-lhe caminhar um passo mais e libertar-se por inteiro de sua formação neoclássica: ter-lhe-ia sido possível? E progredindo ainda um pouco, não significaria a "solução" de seu conflito íntimo e a redução da temperatura dramática e mesmo trágica de sua poesia? Não virá a grandeza que sua poesia também dos paradoxos em que mergulhava o poeta? Não incidirá nos transes de quem sabe que abandona um mundo sem poder aceitar totalmente o outro, a "marca" da poesia bocageana?
Em qualquer hipótese, émulo de Camões ("Camões, Grande Camões, quão semelhante / Acho teu fado ao meu, quando os cotejo!"), Bocage alcançou ser dos Maiores poetas da Língua Portuguesa. E um cotejo entre ambos deveria fatalmente acusar os seguintes aspectos: Bocage é o primeiro poeta da Literatura Portuguesa que traz a poesia lírica para o plano terreno, quotidiano e burguês. De pés cravados no solo, agitava-o uma doença cultural que principiava a contagiar os espíritos mais sedentos de novos caminhos: a ânsia metafísica. Com efeito, era um sequioso de metafísica impossibilitado de superar o fascínio que em sua cerebração e sensibilidade exerciam os estímulos da vida física. Ao contrário, Camões migrava em esferas metafísicas, incapaz de ajustar-se ao mundo contingente; na verdade, mesmo quando se sentia "bicho da terra, vil e pequeno" sua óptica permanecia transcendental. Assim, a poesia de Bocage irrompe das vísceras, do sangue, dos ossos, e estribada em sentimentos menores que procuram ardorosamente escapar de seu círculo de fogo e ascender para as regiões abstractas. Em suma: para Camões a terra significava a dimensão do existir, ou do não-ser: para Bocage, seu território próprio e definitivo; e para o primeiro, os espaços sobrenaturais constituíam a morada do ser, enquanto para o outro se afiguravam o símbolo perfeito do inatingível.
Quando Bocage morreu, o solo já estava preparado para o advento das verdades novas trazidas pelo Romantismo. Se o seu ensinamento não foi imediatamente aproveitado, se sua obra não foi de pronto erguida ao plano em que se encontra hoje, é porque sua língua afiada tinha ganho vários inimigos, e o despeito, a inveja e a calúnia tinham feito o resto. No entanto, a obra bocageana tornou-se a grande ponte de ligação entre o melhor da poesia quinhentista, a de Camões, e a que vingaria no Romantismo, caracterizada essencialmente pelo signo da revolta e da mais profunda insatisfação, de que ele, Bocage, foi o primeiro a dar sincera medida e exemplo.»

In http://books.google.pt/books?id=xcQYSXj0xN0C&pg=PA108&lpg=PA108&dq=bocage+massaud+mois%C3%A9s&source=bl&ots=mud259WZHu&sig=wC7KJPoYEmujxDVMAnXUrQ7FwWI&hl=pt-PT&sa=X&ei=0dvET57_L4PA0QW6mrycCg&redir_esc=y#v=onepage&q&f=false (29/5/2012)

A Arcádia e a Estética Neoclássica

«A Arcádia
Finalidade e Organização Interna

1. Definição
Foi na Itália que apareceram as primeiras «arcádias». Este nome evoca uma região do Peloponeso, outrora povoada de carvalhos, onde numerosos pastores costumavam apascentar seus rebanhos.
A Arcádia, no sentido em que nela falamos aqui, é uma assembleia de escritores portugueses do século XVIII, que tomam o nome de velhos pastores da Grécia, significando com isso que desejam regressar ao viver chão da Natureza e que estão dispostos a levar a arte literária a uma correspondente simplicidade de expressão.
2. Organização e vida interna
a) Fundação.
A Arcádia foi fundada em Março de 1756 por três bacharéis recém-formados: António Dinis da Cruz e Silva, Teotónio Gomes de Carvalho e Manuel Nicolau Esteves Negrão. Cedo lhe deram a sua adesão Correia Garção, Cândido Lusitano, Manuel de Figuei¬redo e Reis Quita.
Todos estes nomes pertencem à burguesia. A Corte e a Nobreza ficaram completamente à margem do movimento.
b) Admissão. Emblema. Divisa.
Seria admitido na Arcádia todo aquele que pudesse ilustrá-la com seus trabalhos literários, sem se atender à nobreza de sangue ou a outras excelências.
Tal qual acontecia em algumas ordens religiosas, os árcades adoptavam um nome literário, geralmente nome pastoril, significando com isso que, dentro da academia, não eram tidas em conta as categorias sociais de cada um.
A Arcádia foi colocada sob o patrocínio da Imaculada Conceição de Maria, cuja verdade, ao tempo ainda não definida como dogma, todos os sócios juravam defender. Um lírio branco era o emblema adoptado.
Como divisa usava a frase latina inutilia truncai — corta o inútil. Estas palavras iam direitas como balas aos excessivos e escusados adornos da estética barroca, que a nova escola pretendia podar.
3. A Arcádia e a reacção contra a estética barroca
A Arcádia tomou como finalidade principal a reacção contra a escola seiscentista, complicada e engenhosa, que, no século das luzes e da clareza, não podia agradar de forma alguma.
Dificilmente encontramos um árcade que não tenha criticado a literatura barroca, bem como a sua tendência de propositadamente voltar as costas à realidade, embrulhando-a, ou então sofismando-a com os conceitos engenhosos.
Mas, se, como assembleia de escritores, encontrou nas academias do século anterior o modelo a seguir, como reacção contra a literatura barroca veio tarde e não se pode dizer de todo original. Foi, sob este aspecto, um movimento anacrónico. Com efeito já muito antes da Arcádia, tinham criticado o barroquismo as velhas academias, fazendo paródias do cultismo metendo-o a ridículo, bem como vários autores.»

In http://auladeliteraturaportuguesa.blogspot.pt/2008/07/arcdia-e-esttica-neoclssica.html (29/5/2012)

Biografia de Bocage


«Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805) nasceu em Setúbal, filho de um advogado e de uma senhora francesa. Vai para a Academia Real da Marinha aos 14 anos e embarca em serviço para a Índia em 1786. Vive dois anos em Goa, regressando a Lisboa com 25 anos de idade. Aí dedica-se a uma vida desregrada entre os botequins e as tertúlias literárias. Pertenceu à Nova Arcádia onde era conhecido pelo pseudónimo de Elmano Sadino. As suas relações com a Arcádia não foram pacíficas, tendo, ao afastar-se, lançado ataques contundentes nos seus versos. O seu pendor satírico levou-o à prisão do Limoeiro, conseguindo a transferência para o mosteiro de São Bento onde vem a falecer pobre e doente. As suas obras tiveram várias edições ainda em vida do poeta: Rimas, tomo I (1791), Rimas, tomo II (1799) e Rimas, tomo III (1804). Em 1811 foram publicadas as Obras Completas no Rio de Janeiro. Ficaram famosos os seus Sonetos, os seus Epigramas e os seus Apólogos.»

Diário de bordo (Tatiana Lopes)

 


Domingo, dia 13 de Fevereiro de 1521

Saímos para o mar e nessa tarde estava calmo. O sol raiava sobre as nossas cabeças e eu sabia exatamente o que me esperava para esta viagem. As histórias sobre criatura inimagináveis (como sereias, polvos gigantes, cavalos com duas cabeças) começaram a fervilhar entre a tripulação, bem como o medo de que estas criaturas fossem mesmo reais. Eu não conhecia ninguém, sentia-me sozinho mas tinha dentro de mim uma coragem de leão.
Nesse final de tarde, o nosso sábio capitão reuniu-nos para termos uma conversa séria. Falou-nos acerca dos perigos daquela imensidão de água e contou-nos uma história maravilhosa que a tripulação que fez a viagem antes de nós lhe contara.
Pensei que a noite fosse calma, mas o mar agitou-se um pouco. Apesar disso, o nosso capitão não deu grande importância e deixou-nos descansar.

Terça-feira, 22 de Fevereiro de 1522

Foi a meio da nossa viagem que senti a verdadeira fúria do mar. Já não comíamos há três dias e a água potável escasseava, por isso, a nossa tripulação precisava de encontrar terra em breve, se não poderíamos morrer todos ali. Foi no início dessa tarde que tudo mudou para pior.
A tripulação estava exausta e o barco começava a ficar corroído pelo embate violento das ondas. Apenas me lembro de quando as ondas gigantes batiam com tanta força no barco, de tal forma que chegámos mesmo a pensar que seríamos cuspidos borda fora.
Mas, felizmente, o mar estabilizou e pudemos descansar.

Sexta-feira, 6 de Fevereiro de 1522

A nossa chegada a Dio não foi bem como esperávamos. O barco naufragou durante a noite em que estava prevista a chegada. Já em bastante mau estado, e após uma onda mais forte, o casco rompeu e o barco não aguentou. Quando acordei, vi que estávamos em terra, rodeados pelos indígenas.
Só eu, o nosso capitão e mais dois sobrevivemos. O comandante parecia entender-se muito bem com aquelas pessoas (se calhar foi dos milhares de histórias que já ouviu) e eles pareciam gostar dele. Fomos muito bem recebidos mas, para ser sincero, mal os entendia.
Apenas o nosso capitão e o chefe da tribo indígena que lá habitava se entendiam e serviam para explicar o que ambas as partes queriam dizer. Estes habitantes deram-nos alojamento e alimentação, apesar de eu achar o que eles comiam um pouco esquisito.
Em conclusão, posso dizer que esta foi a melhor viagem que eu poderia ter feito algum dia, embora houvesse imensos contratempos.

(Texto submetido a correções pontuais)

Diário de bordo (Letícia Gomes)


13 de Dezembro 1521


Hoje, bem cedo, iniciámos a viagem para descobrirmos o nosso mundo. Tudo estava a correr bem, até que, de uma forma inesperada, surgiram piratas e roubaram alguns elementos da nossa tripulação para os escravizar. A tripulação ficou espantada, pois os piratas querem dinheiro e riquezas. Mas estes não, estes queriam os nossos homens. A tripulação que os piratas não levaram queria ir em busca dos parceiros e, como tal, eu não podia ficar indiferente, e por isso decidimos que amanhã bem cedo partiremos com o objetivo de destruir os piratas e recuperar os nossos parceiros.


14 de Dezembro 1521

Como tinha referido, hoje fomos em busca da tripulação, mas, infelizmente, não pudemos fazer muito. Tempestades enormes se atravessaram no nosso caminho, dificultando a busca, mas amanhã partiremos com o mesmo objetivo. Apesar da tempestade, existiu um lado bom neste dia. Com a força do mar viemos parar a uma ilha que ainda não tinha sido descoberta. Nesta ilha apenas existia uma espécie de insetos que falavam e umas flores que tinham vida humana. Tínhamos chegado a “Águra”, ilha de coisas fantásticas e onde a Deusa Girassol reinava. Girassol acolheu-nos com muita simpatia. Mas, infelizmente, não pudemos ficar nesta maravilhosa ilha, temos de recuperar a nossa tripulação e por isso partiremos amanhã de novo.

15 de Dezembro 1521


 Hoje partimos e cumprimos o nosso objetivo. Encontrámos a tripulação e destruímos os piratas. Mas isto não seria possível sem a ajuda de uns seres que não sei explicar. Era uma espécie de peixe, metade peixe e metade homem. Mas, de facto, a sua ajuda foi preciosa, pois enquanto tentávamos recuperar a tripulação, esses seres faziam círculos por baixo do barco pirata a alta velocidade, causando um furacão que acabou por engolir os malvados. Assim recuperámos a tripulação e podemos ir à descoberta do novo mundo.
 Depois  de tantas aventuras, decidi deitar este diário ao mar, para que mais tarde alguém possa conhecer as nossas aventuras, caso alguém o encontre.

(Texto submetido a correções pontuais)

Diário de bordo (Ana Catarina Silva)

13-12-1521

É verdade, dia 13 do mês de Dezembro de 1521 chegou por fim às nossas vidas. Às vidas daqueles que vão descobrir novos rumos e novas criaturas, e vão rezar para que nunca mais estes dias que vão surgir se repitam novamente.

Finalmente, a meio da madrugada pude sentar-me e escrever aquilo que vi de tão horroroso.

Hoje, logo pela manhã bem cedo, as naus tinham partido em direção ao novo mundo. E, logo para enjoar, vi um homem - se podemos nós chamar aquilo homem - a matar um cão de forma aterrorizante. Um cão com seis patas. Arrancou-nas, atou-nas e colocou-as agarradas aos grandes mastros das naus.

Agora que estou nos confins do mar, vou lutar para poder regressar, algo que terei de fazer todos os dias, pois havemos de enfrentar grandes peripécias.



15-12-1521


Hoje não podia deixar de vos dizer a grande batalha que tivemos.

Estávamos a remar, quando nos apareceu um barco pirata. O comandante Barba Verde ordenou que nos preparássemos, pois aproximava-se uma grande batalha.

O navio, inimigo, aproximou-se e atacar-nos. Agarravam-se a cordas e saltavam para a nossa nau, vestidos apenas de cuecas. As suas espadas eram compridas e tinham uma lâmina cortante. A forma como lutavam era incrível, pois tinham grande prática, eram piratas experientes. Furavam os corpos dos nossos homens até com as próprias mãos, pareciam esfomeados por sangue fresco. Mas, apesar disso, éramos portugueses e demonstrámos que também éramos valentes. Assim foi feito. Depois de tanto suor, tanto sangue derramado, conquistámos a sua nau. Perdemos homens, mas ganhámos piratas de cuecas azuis, para escravos.

Isto é cruel, mas é assim a lei da vida a sobrevivência marítima.

17-12-1521


Depois de tanto tempo longe daqueles que nos são preciosos, começámos a sentir as terríveis dores da saudade, já tão difíceis de suportar.

A tripulação está a diminuir, estamos a fraquejar, as nossas forças esgotaram-se, os alimentos são escassos. Fui ao meu saco e tirei a última perna de frango. Estava coberta de larvas e bichos nunca antes vistos. Pensei e disse para mim: “és a última perna de frango, mas ao menos trazes sobremesa”. Ao trincar aquela tenra carne assada, senti que ela não estava como devia. Estava dura, os meus dentes já não conseguiam suportar tanta dureza. A fome que sentia era tanta que, quando reparei, já tinha comido o osso. Pobre vida.
No final desta deliciosa jantarada, enfrentámos uma criatura nunca antes identificada. Era enorme, tinha três olhos grandes e de diferentes cores, 3 narizes, 3 bocas e 3 cara. Cada cara tinha uma orelha, os rostos eram robustos, envelhecidos, e criaturas mínimas do mar percorriam o seu corpo coberto de viscosa lama preta e amarela. De uma das bocas saía fogo, os dentes eram bicudos: tinham dois metros de comprimento, eram grossos, largos e cortantes. Esta criatura pegava nos nossos homens pelas pernas, lançava-lhes fogo e comia-os. Só comia nas bocas de fora. Da cara do meio, da sua boca, saía o fogo que queimava os nossos homens. O nosso capitão Barba Verde foi degolado pela criatura, que o dividiu em duas partes. O seu sangue foi projetado para os nossos rostos. A força do nosso capitão não acabou, pois agarrou bem a sua espada, lançou-a em direção ao coração da criatura, e esta, num grito alucinante, caiu no mar e formou uma enorme onda que lavou todo o sangue da nau.

Agora, num suspiro cansado, vou encostar a cabeça junto ao leme, e descansar. Espero ansiosamente que chegue a terra firme.

(Texto submetido a correções pontuais)

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Diário de bordo (Marta Enes)


13/12/1521

 Foi hoje que parti em busca de uma vida nova. Pouco levo, a não ser um saco com poucas roupas, fruta, alguma carne salgada, água e alguns vegetais para os primeiros dias. Assim que entrei no barco fiquei um pouco assustado e vi que iria ser uma viagem dura. A pessoa que mais me assustou foi um homem alto, gordo, de olhos muito grandes e negros, sem dentes e com cara de assassino. Em toda a tripulação não via um rosto feliz, mas sim de tristeza por deixar a família, medo por passar tanto tempo no mar e não saber o que nos esperava na nova terra.

26/03/1522

 Será que vale a pena? Uma viagem onde já passei muita fome, frio e sofrimento. Nunca pensei ver o que já vi durante estes meses. Quase fomos engolidos por um remoinho gigante que nos sugava como se estivesse a morrer a fome e nós fôssemos a única esperança dele. A nossa sorte foi que a maré e o vento nos ajudaram. Nunca tive tanto medo na vida. Só de ver que em alguns minutos poderíamos morrer todos e poderia acabar ali o sonho que todos estamos a tentar concretizar, faz-me ver que a vida é mesmo muito curta e que não tenho tirado o melhor proveito dela.
Mas, como se isso não bastasse, ainda tivemos de enfrentar um animal marinho gigante com tentáculos por todo o lado, devia pesar tanto como o nosso barco - ou mais. Começou por tentar virar o barco, parti-lo e amarrar-nos, mas não conseguiu, porque nós, com as nossas espadas, cordas e com o que nos aparecia em mãos conseguimos imobilizá-lo, cortar-lhe um olho e alguns tentáculos, o que o fez ficar fraco e acabar por desistir. Foi uma luta para aí de três horas e muito cansativa, mas, graças a Deus, sobrevivemos (não todos porque morreram três  tripulantes). Foi pena, que estejam em paz.

Ah, tenho uma novidade! Já vemos terra: longe, mas é sinal que deve faltar pouco.



08/01/1522

   Estamos cada vez mais perto! Mas hoje, que estava a ser um dia tão calmo e que a maré nos estava a ajudar tanto a adiantar-nos, tivemos outra desgraça. Quando os marinheiros falavam delas, nós pensávamos que era fantasia devido ao cansaço, mas, pelos vistos, não. De repente ouvimos uma voz mágica: era uma sereia. Estava a cantar uma canção tão linda que nos fez ficar hipnotizados e, consoante a ouvíamos, atraía-nos para ela. São mesmo mágicas, foi preciso tapar os ouvidos, mas nem todos resistimos, infelizmente dois tripulantes atiraram-se ao mar.

Mas isto não ficou por aqui. Quase a chegar a terra encontramos uma ilha deserta e decidimos parar lá um pouco para descansar e tentar arranjar alguns alimentos. Assim que pousámos os pés em terra, separámos-nos e fomos uns à procura de comida e outros tentar caçar algum animal. No grupo em que eu ia, de repente, ouviu-se um ruído e quando olhámos para a árvore ao nosso lado ela mexia-se e tinha um tipo de boca estranho. Nunca pensei ver algo assim. Começámos todos aos gritos a chamar pelos outros e voltámos para o barco. Nesta viagem vi o que nunca sonhei nem nos piores pesadelos. Ainda bem que chegamos hoje.

    Chegámos! Graças a Deus estamos em terra. Foi difícil, sofri e passei muita fome, mas agora vou poder começar uma vida melhor. À primeira vista parece-me tudo muito diferente e estranho. Os habitantes têm uma cara estranha, olhos rasgados, há animais diferentes e as comidas são horrendas. Com o tempo habituamo-nos, é normal. O importante é que vou começar a procurar trabalho, ter algum dinheiro e talvez um dia ter uma família. Será desta vez que vou ser feliz?


(Texto submetido a correções pontuais)

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Literatura portuguesa em disparates

  • Antes da canção estudada indica-se, em itálico, que se trata de um mote a uma cantiga alheia. Eis alguams respostas: «Na cantiga alheia em que o autor é Luís Vaz de Camões...»

  • À pergunta «Indica os sentimentos e atitudes revelados pela figura feminina.» segue-se a resposta «A figura de estilo femenina...» ou «As atitudes dela reveladas no poema pode se ver nos versos...» ou «Os sentimentos revelados pela figura feminina é...»
Ortografia criativa

  • femenina
  • pregunta

Eva na ilha

Dia 2/1521
Chegamos à ilha. Era linda, cheia  de vida e entusiasmante.
Enquanto a investigávamos, descobrimos um povo indígena. Eram mais escuros do que nós, tinham vestimentas pouco usuais. Andavam como Deus nos trouxe ao mundo, todos despidos, só usavam um bocado de pano para tapar as miudezas.
Escondemo-nos atrás do mato a observar o que faziam.
Pareciam feiticeiros, andavam à volta de uma fogueira e a tanger qualquer cousa intrigante, mas era deveras interessante.
Estávamos tão entusiasmados pelas suas práticas, que não vimos um miúdo chegar. Era gordinho, tinha cabelo grande e coisas marcadas na pele. Começou a gritar numa língua estranha. Vieram logo todos.
Ficámos espantados com o número de pessoas que havia ali.
Fiquei com receio, até com medo. Eles fitavam-nos muitos sérios, até que apareceu uma figura mística que falava para nós e nós nada percebíamos.
Até que começámos a falar por gestos.
Após horas, eles perceberam que não éramos uma ameaça, e aquelas horas que passámos a falar por gestos eram interessantes, até que tive a ideia de ficarmos ali durantes uns dias.
Tinha então decidido ensinar a nossa cultura, a nossa língua, e ele a deles, estávamos a dar-nos bem.
Visitámos a ilha e logo percebemos que estava cheia de riquezas e que tínhamos que avisar o rei para a poder explorar, e assim foi, mandei um navio com os melhores marinheiros, para trazer mais naus, com mais marinheiros, para carregar e explorar as riquezas daquela fabulosa ilha.
As naus chegaram em pouco tempo e de lá traziam uma carta do rei dizendo que a minha descoberta fora gratificante.
Agradecemos a hospitalidade e seguimos a nossa viagem.
Foi uma descoberta muito interessante e ao mesmo tempo instrutiva, visto que conheci outro povo e a sua cultura.

(Texto submetido a correções pontuais)

Diário de bordo (Lídia Neves)


Dia 1
Chegou o dia da partida. Para trás deixarei a minha terra e todos os meus mais queridos. Terei uma viagem muito difícil, visto que não conheço ninguém. Mal cheguei ao navio, o capitão reuniu-nos para nos ficarmos a conhecer, e saber as etapas que teremos de enfrentar para chegar a Dio, o nosso objectivo. Estávamos todos apreensivos, pois é uma viagem longa e não sabemos o que nos espera.
Logo que rumámos a Dio, o mar estava muito agitado. Esperávamos uma noite muito exaustiva. Como o mar estava tão agitado, o barco oscilava muito. Não dormimos nada para ficar de vigia. Pela manhã, o mar já estava mais calmo. Uns aproveitaram para dormir, outros para comer algumas carnes salgadas que trazíamos nos sacos. Ao fim de comermos, aproveitámos para descansar um bocado, e outros aproveitaram para se conhecer melhor. Para já, a viagem está a correr bem, veremos o que nos espera amanhã.
Dia 2
Logo pela manhã, ainda nem estávamos completamente acordados, e ouvimos uns sons. Parecia que estavam a bater no casco do navio. Todos procurámos saber de onde vinha o barulho, até que olhámos para o mar e estavam lá sereias, que logo começaram à conversa conosco e nos ajudaram a passar o tempo. Contaram-nos as maravilhas daquele mar, o que poderíamos encontrar, entre muitas outras coisas.
O dia já ia a meio, mas nada nos tirava da cabeça o que poderíamos encontrar quando chegássemos a Dio. Uns diziam que iríamos encontrar pessoas com duas cabeças, só com um olho, animais assustadores, outros que talvez as pessoas fossem normais - mas, afinal, ninguém sabia ao certo.
Já o sol se tinha posto, a escuridão estava a vir, quando começámos a ouvir um barulho ensurdecedor e no céu só se viam feixes de fogo: eram pássaros enormes que cuspiam fogo. Aproximaram-se do nosso navio e atearam fogo ao mastro que logo começou a arder. Todos entrámos em pânico. Mas logo o nosso capitão nos mandou manter calmos, e tentar apagar aquele fogo. O fogo rapidamente foi extinto, visto que não teve muito tempo para alastrar.
Todos ficámos assustados com o que se tinha passado, pois aqueles pássaros enormes podiam voltar quando menos esperássemos. A noite já ia longa, e estávamos exaustos com o sucedido. Aproveitámos para dormir, mas sempre com receio que os pássaros voltassem.
Dia 3
Deixei de escrever por algum tempo, pois a viagem tornou-se um grande tormento. Fomos atacados por corsários, animais marinhos, pássaros gigantes e estivemos perto de naufragar, o que nos deixou exaustos, e sem forças para continuar.
Depois desta viagem longa e exaustiva, finalmente chegámos a Dio, e logo nos deparámos com um dia chuvoso e de trovoada. Tivemos que procurar um refúgio, pois estávamos famintos e cansados. Logo que encontrámos local abrigado, pudemos descansar e comer a pouca comida que nos restava da viagem, visto que a meio da viagem a comida  escasseou e tivemos que pescar alguns peixes que nos apareciam.
Após todos terem comido e descansado, aproveitámos para conhecer Dio, visto que estávamos todos empolgados para saber como seriam os habitantes, e como era aquela ilha. Quando saímos do nosso abrigo, deparámo-nos com pessoas normais... afinal não havia pessoas com duas cabeças, com um só olho, nem animais estranhos, eram simplesmente pessoas como nós e tinham as suas próprias vidas.

(Texto submetido a correções pontuais)

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Lembrete

Alunos com reuniões marcadas no dia 29 de Maio (terça-feira)

  • Cristiana (11h)
  • Bárbara (14h15m)
  • Cristiano (15h)

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Diário de bordo (Eva Joana)

Diário de Bordo
Dia 1 / 1521
 A noite foi calma, os marinheiros puderam dormir descansados, depois de noites sem dormir por causa das tempestades, menos um problema
Os alimentos estão a acabar, só nos resta peixe, algumas carnes salgadas e arroz, teremos que procurar terra o mais rápido possível ou estamos perdidos.
Que aventura esta que estamos a passar: posso dizer que já vi criaturas lindas, golfinhos, baleias, seres fantásticos que habitam este oceano imenso.
A manhã foi impecável, os marinheiros trabalham bem, que sorte a minha por os ter encontrado, mas alguns medos se apoderam de mim. Às vezes sinto que não serei bom capitão como meu irmão, mas sei que sou capaz.
É de noite e houve tempestade. Vi horrendos e monstruosos seres, não sei se seriam as ondas, mas estavam bem presentes, e bem reais.
Um dos  monstros gritava e creio que estava acompanhado, eram horrendos, eram gigantes. Por momentos temi pela minha vida. Aqueles olhos fixaram-se nos meus, senti que as suas mãos imundas me tocavam.
Eles deitaram-nos abaixo só com uma mão, o nosso barco afundou e, quando estava no fundo, vi algo mágico, algo que me maravilhou, algo que desejava possuir: sereias, eram perfeitas, lindas, como se fossem deusas.
Senti uma a chegar ao pé de mim, senti que falava comigo, mas eu era incapaz de lhe responder, devido ao espanto. Ela disse-me “Vem comigo, vamos ser só um”. Senti por momentos as mãos dela a tocarem no meu rosto, pareciam seda, os olhos azuis como nuvens a olhar-me, senti que era ao meu destino.
Mas o destino tinha-me  separado dela.
Ouvia gritos, eram os meus homens, os meus homens de armas. Senti que era minha obrigação ajudar. Aquela sereia tinha um olhar sedutor que me tinha hipnotizado, mas de repente aquele olhar quebrou-se, como se fosse um feitiço.
Voltei à realidade e tentei ajudar os meus homens, mas depressa perdi os sentidos, foi como se morresse.
Acordei numa praia. Foi o pior e o melhor naufrágio que já tive, talvez fosse capaz de reviver tudo outra vez (parece loucura, eu sei).
Perdi metade da tripulação, o meu barco perdeu-se no fundo do mar, e não tínhamos mantimentos, que seria agora de nós?
Só Deus nos podia salvar.
Deus ajudou-nos e a Ele dou graças, encontrámos uma cidade onde ficámos uns dias, gente simpática que nos ajudou, emprestaram-nos um barco e deram-nos mantimentos e voltámos ao mar.
Mas, após uns dias, a obsessão voltou: estava apaixonado, apaixonado por uma criatura que não pertencia ao meu mundo, estava louco, estava perdido.
(Texto submetido a correções)

terça-feira, 22 de maio de 2012

As viagens de Gulliver




A Filipa Jesus enviou-nos duas hiperligações de filmes animados, uma do "Lago dos cisnes" e a outra das Viagens de Gulliver. Como viram, em relação ao "Lago dos Cisnes", preferi "the real thing", tanto por causa da música e da coreografia, como por considerar que se percebia melhor a intriga. Em relação às Viagens de Gulliver, porém, publico o filme que a Filipa quis partilhar connosco - embora continue a aconselhar a leitura do livro, um clássico que não perdeu a frescura nem a atualidade.

Um excerto do "Lago dos Cisnes"



A propósito de uma canção de Camões e do respetivo remate, onde o sujeito poético se refere à própria canção:

"Canção de cisne, feita n'hora extrema: /na dura pedra fria/ da memória te deixo, em companhia/do letreiro de minha sepultura; /que a sombra escura já me impede o dia.",

e por sugestão do nosso manual (p. 114, vol. II), deixo-vos um excerto do ballet "Lago dos Cisnes" (música de Tchaikowski) onde Odile se faz passar por Odette.

domingo, 13 de maio de 2012

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, por José Mário Branco

Endechas A Bárbara Escrava, por Sérgio Godinho

Verdes são os campos, por José Afonso

Teste de avaliação (18 de Maio de 2012):

    O que saber, o que fazer
    Luís Vaz de Camões

    • Apreender a distinção entre lírica tradicional e lírica renascentista
    • Conhecer as diferentes formas poéticas da lírica tradicionalista
    • Apreender a variedade temática (e de tonalidade) patente nas redondilhas
    • Identificar os princípios de retórica literária subjacentes à lírica renascentista camoniana.
    • Aperceber-se das diferentes modulações de sentimentos e atitudes presentes na lírica camoniana, configurando uma nova relação do "eu" poético consigo próprio, com o mundo e com a natureza circundante

    Fernão Mendes Pinto
    • Integrar o aparecimento da Literatura de viagens no contexto político e social dos séculos XV e XVI.
    • Compreender a importância da Peregrinação como obra reveladora de mundos diferentes e exóticos
    • Acompanhar as vivências e aventuras do herói/anti-herói nas suas múltiplas facetas
    N.B. As mensagens que dizem respeito a esta matéria foram publicadas a partir do dia 10 de Abril

    segunda-feira, 7 de maio de 2012

    Noções básicas de... educação


    Ler também...

    http://profgraciele.blogspot.pt/2011/03/boas-maneiras-em-sala-de-aula.html

    ou

    http://wiki.answers.com/Q/Reasons_Not_to_Talk_in_Class

    ou

     http://blog.enseignons.be/monsieurnowak/jarrete-pas-de-parler-en-classe/

    Noções básicas de versificação


    Versificação - Noções Básicas



    Versificação – é a arte ou a técnica de fazer versos.
    Verso – é uma linha de um poema. Pode ou não ter sentido completo.
    Ritmo – é o resultado da sucessão de sílabas fortes e fracas (tónicas e átonas) com intervalos regulares ou não muito espaçados. O ritmo é uma fonte de prazer estético auditivo. Pode apresentar-se lento e vagaroso, rápido e sincopado.
    Exs.: Ritmo lento:
    «Houve outrora um palácio, hoje em ruínas
    Fundado numa rocha à beira-mar…»
    (Gomes Leal)
    Ritmo rápido: «Beijo na face
    pede-se e dá-se.»
    (João de Deus)
    Rima – é a correspondência (identidade ou semelhança) de sons verificada a partir da vogal tónica
    da última palavra de dois ou mais versos.
    Ex.: «No plaino abandonado
    …………………………
    De balas trespassado
    …………………………»
    (Fernando Pessoa)
    Por vezes, uma dessas palavras está situada no interior do verso seguinte.
    Ex.: «Baladas de uma outra terra, aliadas.
    Às saudades das fadas, amadas por gnomos idos».
    (Fernando Pessoa)
    – Versos rimados – são os versos que rimam entre si.
    Ex.: «A arte em nós se revela
    sempre de forma diferente:
    cai no papel ou na tela
    conforme o artista sente.»
    (António Aleixo)
    – Rimas
    • Cruzada – os versos rimam alternadamente.
    Ex.: «No dia de S. João
    Há fogueiras e folias
    Gozam uns e outros não
    Tal qual como os outros dias.»
    (Fernando Pessoa)
    • Emparelhada – os versos rimam dois a dois ou três a três consecutivamente.
    Exs.: «Cantando espalharei por toda a parte
    Se a tanto me ajudar o engenho e arte
    (Luís de Camões)
    • Interpolada – entre dois versos que rimam, há dois ou mais sem rima ou de rima diferente.
    Ex.: «A cena é muda e breve:
    Num lameiro,
    um cordeiro
    a pastar ao de leve…»
    (Miguel Torga)


    • Encadeada – a palavra final de um verso rima com outra situada no interior do verso seguinte.
    Ex.: «Que alegre campo e praia deleitosa!
    Quão saudosa faz esta espessura…»
    (Tomás Ribeiro)
    • Consoante – é a perfeita correspondência de sons finais (vogais e consoantes).
    Chama-se rica, se a correspondência de sons se dá em palavras de diferentes classes gramaticais; diz-se pobre, se a correspondência se dá em palavras da mesma classe gramatical.
    Ex.: «As armas e os barões assinalados
    Que, da Ocidental praia Lusitana,
    Por mares nunca de antes navegados
    Passaram ainda além da Taprobana,
    (Luís de Camões)
    • Toante – é a correspondência de sons finais, produzidos só pelas vogais.
    Ex.: «Já só pensando escuto-me e resido
    Já falo assim;
    Meu próprio diálogo interior divide
    Meu ser de mim.»
    (Fernando Pessoa)
    – Versos soltos ou brancos – são os versos que não obedecem a qualquer tipo de rima.
    Ex.: «Em Junho, a fruta começa a apetecer,
    Um homem passeia no cais e debulha
    uma nêspera com ar de quem faz horas.»
    (António Cabral)
    – Sílabas métricas – são os sons apercebidos pelo ouvido.
    À contagem das sílabas métricas, dá-se o nome de escansão.
    – Regras para a determinação do número de sílabas de um verso:
    • A última sílaba tónica corresponde à ultima sílaba métrica.
    • A vogal átona final e a vogal inicial (tónica ou átona) elidem-se, formando apenas uma sílaba métrica.
    <>
    Conforme o número de sílabas que os constituem, os versos têm designações diferentes. Seguem-se os mais frequentes.
    • Versos de cinco sílabas – redondilha menor.
    • Versos de sete sílabas – redondilha maior.
    • Versos de dez sílabas – decassílabos.
    • Versos de doze sílabas – alexandrinos.
    – Estrofes – são conjuntos de versos separados graficamente por um espaço e formando, geralmente, cada um, sentido completo.
    Conforme o número de versos que as constituem, as estrofes tomam designações diferentes.
    Parelha ou dístico – estrofe de dois versos.
    Terceto – estrofe de três versos.
    Quadra – estrofe de quatro versos.
    Quintilha – estrofe de cinco versos.
    Sextilha – estrofe de seis versos.
    Oitava – estrofe de oito versos.
    Décima – estrofe de dez versos.

    Fonte: Língua Portuguesa - 9.º ano, de Maria Ascensão Teixeira e Maria Assunção Bettencourt, 2004, Texto Editores.