segunda-feira, 28 de maio de 2012

Diário de bordo (Marta Enes)


13/12/1521

 Foi hoje que parti em busca de uma vida nova. Pouco levo, a não ser um saco com poucas roupas, fruta, alguma carne salgada, água e alguns vegetais para os primeiros dias. Assim que entrei no barco fiquei um pouco assustado e vi que iria ser uma viagem dura. A pessoa que mais me assustou foi um homem alto, gordo, de olhos muito grandes e negros, sem dentes e com cara de assassino. Em toda a tripulação não via um rosto feliz, mas sim de tristeza por deixar a família, medo por passar tanto tempo no mar e não saber o que nos esperava na nova terra.

26/03/1522

 Será que vale a pena? Uma viagem onde já passei muita fome, frio e sofrimento. Nunca pensei ver o que já vi durante estes meses. Quase fomos engolidos por um remoinho gigante que nos sugava como se estivesse a morrer a fome e nós fôssemos a única esperança dele. A nossa sorte foi que a maré e o vento nos ajudaram. Nunca tive tanto medo na vida. Só de ver que em alguns minutos poderíamos morrer todos e poderia acabar ali o sonho que todos estamos a tentar concretizar, faz-me ver que a vida é mesmo muito curta e que não tenho tirado o melhor proveito dela.
Mas, como se isso não bastasse, ainda tivemos de enfrentar um animal marinho gigante com tentáculos por todo o lado, devia pesar tanto como o nosso barco - ou mais. Começou por tentar virar o barco, parti-lo e amarrar-nos, mas não conseguiu, porque nós, com as nossas espadas, cordas e com o que nos aparecia em mãos conseguimos imobilizá-lo, cortar-lhe um olho e alguns tentáculos, o que o fez ficar fraco e acabar por desistir. Foi uma luta para aí de três horas e muito cansativa, mas, graças a Deus, sobrevivemos (não todos porque morreram três  tripulantes). Foi pena, que estejam em paz.

Ah, tenho uma novidade! Já vemos terra: longe, mas é sinal que deve faltar pouco.



08/01/1522

   Estamos cada vez mais perto! Mas hoje, que estava a ser um dia tão calmo e que a maré nos estava a ajudar tanto a adiantar-nos, tivemos outra desgraça. Quando os marinheiros falavam delas, nós pensávamos que era fantasia devido ao cansaço, mas, pelos vistos, não. De repente ouvimos uma voz mágica: era uma sereia. Estava a cantar uma canção tão linda que nos fez ficar hipnotizados e, consoante a ouvíamos, atraía-nos para ela. São mesmo mágicas, foi preciso tapar os ouvidos, mas nem todos resistimos, infelizmente dois tripulantes atiraram-se ao mar.

Mas isto não ficou por aqui. Quase a chegar a terra encontramos uma ilha deserta e decidimos parar lá um pouco para descansar e tentar arranjar alguns alimentos. Assim que pousámos os pés em terra, separámos-nos e fomos uns à procura de comida e outros tentar caçar algum animal. No grupo em que eu ia, de repente, ouviu-se um ruído e quando olhámos para a árvore ao nosso lado ela mexia-se e tinha um tipo de boca estranho. Nunca pensei ver algo assim. Começámos todos aos gritos a chamar pelos outros e voltámos para o barco. Nesta viagem vi o que nunca sonhei nem nos piores pesadelos. Ainda bem que chegamos hoje.

    Chegámos! Graças a Deus estamos em terra. Foi difícil, sofri e passei muita fome, mas agora vou poder começar uma vida melhor. À primeira vista parece-me tudo muito diferente e estranho. Os habitantes têm uma cara estranha, olhos rasgados, há animais diferentes e as comidas são horrendas. Com o tempo habituamo-nos, é normal. O importante é que vou começar a procurar trabalho, ter algum dinheiro e talvez um dia ter uma família. Será desta vez que vou ser feliz?


(Texto submetido a correções pontuais)

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