13/12/1521
Foi hoje que parti em busca de uma vida nova. Pouco levo, a não ser um saco
com poucas roupas, fruta, alguma carne salgada, água e alguns vegetais para os
primeiros dias. Assim que entrei no barco fiquei um pouco assustado e vi que
iria ser uma viagem dura. A pessoa que mais me assustou foi um homem alto,
gordo, de olhos muito grandes e negros, sem dentes e com cara de assassino. Em
toda a tripulação não via um rosto feliz, mas sim de tristeza por deixar a
família, medo por passar tanto tempo no mar e não saber o que nos esperava na
nova terra.
26/03/1522
Será que vale a pena?
Uma viagem onde já passei muita fome, frio e sofrimento. Nunca pensei ver o que
já vi durante estes meses. Quase fomos engolidos por um remoinho gigante que
nos sugava como se estivesse a morrer a fome e nós fôssemos a única
esperança dele. A nossa sorte foi que a maré e o vento nos ajudaram. Nunca tive
tanto medo na vida. Só de ver que em alguns minutos poderíamos morrer todos e poderia
acabar ali o sonho que todos estamos a tentar concretizar, faz-me ver que a vida
é mesmo muito curta e que não tenho tirado o melhor proveito dela.
Mas, como se isso
não bastasse, ainda tivemos de enfrentar um animal marinho gigante com
tentáculos por todo o lado, devia pesar tanto como o nosso barco - ou mais.
Começou por tentar virar o barco, parti-lo e amarrar-nos, mas não conseguiu, porque
nós, com as nossas espadas, cordas e com o que nos aparecia em mãos conseguimos
imobilizá-lo, cortar-lhe um olho e alguns tentáculos, o que o fez ficar fraco e
acabar por desistir. Foi uma luta para aí de três horas e muito cansativa, mas,
graças a Deus, sobrevivemos (não todos porque morreram três tripulantes). Foi pena, que estejam
em paz.
Ah, tenho uma novidade! Já vemos terra: longe, mas é sinal que
deve faltar pouco.
08/01/1522
Estamos cada vez
mais perto! Mas hoje, que estava a ser um dia tão calmo e que a maré nos estava
a ajudar tanto a adiantar-nos, tivemos outra desgraça. Quando os marinheiros
falavam delas, nós pensávamos que era fantasia devido ao cansaço, mas, pelos
vistos, não. De repente ouvimos uma voz mágica: era uma sereia. Estava a
cantar uma canção tão linda que nos fez ficar hipnotizados e, consoante a
ouvíamos, atraía-nos para ela. São mesmo mágicas, foi preciso tapar os
ouvidos, mas nem todos resistimos, infelizmente dois tripulantes atiraram-se ao mar.
Mas isto não ficou por aqui. Quase a chegar a terra encontramos uma ilha deserta e decidimos
parar lá um pouco para descansar e tentar arranjar alguns alimentos. Assim que
pousámos os pés em terra, separámos-nos e fomos uns à procura de comida e
outros tentar caçar algum animal. No grupo em que eu ia, de repente, ouviu-se um ruído
e quando olhámos para a árvore ao nosso lado ela mexia-se e tinha um tipo de
boca estranho. Nunca pensei ver algo assim. Começámos todos aos gritos a chamar
pelos outros e voltámos para o barco. Nesta viagem vi o que nunca sonhei nem
nos piores pesadelos. Ainda bem que chegamos hoje.
Chegámos! Graças
a Deus estamos em terra. Foi difícil, sofri e passei muita fome, mas agora vou poder
começar uma vida melhor. À primeira vista parece-me tudo muito diferente e estranho.
Os habitantes têm uma cara estranha, olhos rasgados, há animais diferentes e
as comidas são horrendas. Com o tempo habituamo-nos, é normal. O importante é que vou
começar a procurar trabalho, ter algum dinheiro e talvez um dia ter uma
família. Será desta vez que vou ser feliz?
(Texto submetido a correções pontuais)
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