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No aspecto semântico muito mais do que na forma, deixa Bocage entrever na sua obra um substrato romântico que aflora de vez em quando, com sensível nitidez, à superfície de numerosas composições. Isto dá-se sempre que o Poeta manifesta:
1. um sentido agudo da sua personalidade, que o leva a retratar-se, a ver-se nascido sob o signo da infelicidade, a ter remorsos e horror ao aniquilamento, a querer redimir a vida com a morte, a comprazer-se em tumultos interiores;
2. uma melancolia enfermiça, um pessimismo e um desespero vizinhos do desejo do suicídio;
3. o amor à liberdade, a inadaptação ao ambiente quê o cerca, a ponto de querer um mundo imaginado a seu bel-prazer;
4. a crença em pressentimentos e agouros, a fidelidade aos impulsos dos sentidos e afectos;
5. a fascinação da penumbra tumular, do crepúsculo, da treva, do macabro, da paisagem tipo «belo horrível»;
6. um erotismo ora histérico até ao desespero, como quando grita:
Eu louco, eu cego, eu mísero, eu perdido,
de ti só trago cheia, ó Jónia, a mente,
do mais e de mim mesmo ando esquecido;
de ti só trago cheia, ó Jónia, a mente,
do mais e de mim mesmo ando esquecido;
ora doce e lânguido, como quando geme:
Urselina gentil, benigna e pura,
eis nas asas subtis de um ai cansado
a ti meu coração voa, alagado
em torrentes de sangue e de ternura...»
Urselina gentil, benigna e pura,
eis nas asas subtis de um ai cansado
a ti meu coração voa, alagado
em torrentes de sangue e de ternura...»
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