domingo, 28 de outubro de 2012

Quem foi... António Nobre? II

 
«Perfil Literário

 
A debilidade física e a preocupação com a morte foi algo que marcou de forma indelével a sua personalidade, desde logo por ser o mais mimado e superprotegido da família, e concedeu à sua obra o carácter egotista que a caracteriza.

Se nos seus poemas pesa o pendor triste, dramático e desesperado, nas suas cartas vibra aqui e além o apego à vida, a esperança da cura e também a alegria.

A sua escrita entre 1895 e 1889, com algumas excepções de sonhos de amor e glória, dão largas à amargura e angústia de uma existência vincada pelo medo da morte mas também pela resignação.

Só, o livro referência que nos deixou, foi publicado em Paris em 1892, considerado pelo próprio "o livro mais triste que há em Portugal". O livro surge no contexto de depressão moral colectiva quando ainda se fazia sentir a vaga de comoção originada pelo romantismo, mas o Só é também marcado pelo temperamento melancólico de A. Nobre, pela subjectividade expressa na exclusiva preocupação consigo próprio, mesmo quando se mostra atento ao mundo envolvente que o liga às memórias da infância.

A importância de A. Nobre é fruto da forma coloquial e efabulada como soube falar de si mesmo, especialmente no Só. A sua compleição frágil e porte sedutor faziam com que se notasse em toda a parte, a forma como compunha as suas roupas evidenciavam-no, o seu amigo Alberto Oliveira informa-nos que: "deu nas vistas, e as mais bonitas raparigas prendiam nos dele os seus olhos...".

A exacerbada consciência da sua singularidade, a confiança no interesse espontâneo que suscitava e que ele procurava tornar mais vivo, são a calda de originalidade dos seus poemas, ou seja, António Nobre sobrepõe-se a todas as influências possíveis de encontrar nos seus versos: o romantismo, o realismo e o simbolismo.


Insere-se numa estética decadentista/simbolista, renovando o romantismo de Garrett e anunciando o modernismo de Sá-Carneiro. É figura dominante do grupo Boémia Nova. A tuberculose, que cedo o atacou, forçou-o a uma vida de peregrinação pela Suíça, Inglaterra e Madeira, acabando por morrer precocemente, o que não impediu que o nome de António Nobre figura entre os grandes poetas da literatura portuguesa de todos os tempos, levando Fernando Pessoa a afirmar: "Ele foi o primeiro a pôr em europeu este sentimento português das almas e das coisas, que tem pena de que umas não sejam corpos, para lhes poder fazer festas, e de que outras não sejam gente, para poder falar com elas".»
 

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