«Perfil Literário
A debilidade física e a
preocupação com a morte foi algo que marcou de forma indelével a sua
personalidade, desde logo por ser o mais mimado e superprotegido da família, e
concedeu à sua obra o carácter egotista que a caracteriza.
Se nos seus poemas pesa o pendor
triste, dramático e desesperado, nas suas cartas vibra aqui e além o apego à
vida, a esperança da cura e também a alegria.
A sua escrita entre 1895 e 1889,
com algumas excepções de sonhos de amor e glória, dão largas à amargura e
angústia de uma existência vincada pelo medo da morte mas também pela
resignação.
Só, o livro referência que nos
deixou, foi publicado em Paris em 1892, considerado pelo próprio "o livro mais
triste que há em Portugal". O livro surge no contexto de depressão moral
colectiva quando ainda se fazia sentir a vaga de comoção originada pelo
romantismo, mas o Só é também marcado pelo temperamento melancólico de A. Nobre,
pela subjectividade expressa na exclusiva preocupação consigo próprio, mesmo
quando se mostra atento ao mundo envolvente que o liga às memórias da infância.
A importância de A. Nobre é fruto
da forma coloquial e efabulada como soube falar de si mesmo, especialmente no
Só. A sua compleição frágil e porte sedutor faziam com que se notasse em toda a
parte, a forma como compunha as suas roupas evidenciavam-no, o seu amigo Alberto
Oliveira informa-nos que: "deu nas vistas, e as mais bonitas raparigas prendiam
nos dele os seus olhos...".
A exacerbada consciência da sua
singularidade, a confiança no interesse espontâneo que suscitava e que ele
procurava tornar mais vivo, são a calda de originalidade dos seus poemas, ou
seja, António Nobre sobrepõe-se a todas as influências possíveis de encontrar
nos seus versos: o romantismo, o realismo e
o simbolismo.
Insere-se numa estética
decadentista/simbolista, renovando o romantismo de Garrett e anunciando o
modernismo de Sá-Carneiro. É figura dominante do grupo Boémia Nova. A
tuberculose, que cedo o atacou, forçou-o a uma vida de peregrinação pela Suíça,
Inglaterra e Madeira, acabando por morrer precocemente, o que não impediu que o
nome de António Nobre figura entre os grandes poetas da literatura portuguesa de
todos os tempos, levando Fernando Pessoa a afirmar: "Ele foi o primeiro a pôr em
europeu este sentimento português das almas e das coisas, que tem pena de que
umas não sejam corpos, para lhes poder fazer festas, e de que outras não sejam
gente, para poder falar com elas".»
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