quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Contributo para o PIL da Flávia


Outro contributo para o PIL da Eva


Contributo para o PIL da Eva


Contributo para o PIL da Ana


Contributo para o PIL da Filipa


Contributo para o PIL da Marta


Contributo para o PIL da Sónia


Contributo para o PIL da Lídia


Contributo para o PIL da Tatiana


É o último


Os Mários são irresistíveis


Mais um contributo para o PIL da Letícia


Contributo para o PIL da Letícia

"Exageros", Mário Viegas encenando Mário-Henrique Leiria


segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

"Um auto de Gil Vicente"

«Um Auto de Gil Vicente é um drama romântico de Almeida Garrett. Com esta peça, o autor de “Folhas Caídas” procurou, concomitantemente, homenagear Gil Vicente, dito pai do teatro português, e promover uma renovação do teatro.

Neste drama há um triângulo amoroso entre Paula Vicente (filha de Gil Vicente), Bernardim Ribeiro (poeta) e Beatriz (princesa). Paula Vicente representa uma mulher culta e orgulhosa, capaz de abdicar do amor que sente, para não ferir os sentimentos de Beatriz, sua amiga, mas também sua superior. Beatriz, que ama e é amada por Bernardim, cumpre os desígnios de seu pai e, a bem da nação, casa um príncipe italiano. Em nosso entender, Garrett conseguiu exprimir, de forma superior, as subtilezas dos sentimentos que atravessam Paula Vicente, personagem pivot do drama. Note-se que ela é o elo de ligação entre Gil Vicente e Bernardim Ribeiro; entre o elenco da peça; entre os homens da corte italiana e Beatriz.
Almeida Garrett, na escrita deste texto, revelou a sua argúcia ao construir um texto teatral que, dentro dele, num processo metatextual, insere outro texto, Cortes de Júpiter, de Gil Vicente.
Garrett prova à saciedade a sua mestria na arte dramatúrgica, afirmando-se como um dos raros talentos capaz de brilhar quer na narrativa, quer na lírica, quer no género dramático.»
 
in http://cercarte.blogspot.pt/ (consultado em 3/12/2012)

Projeto individual de leitura



1. Enquadramento histórico literário da obra e do autor
2. Apreciação crítica da obra
3. Registo, documentado por excertos e comentários pessoais, do estilo predominante
4. Seleção de um excerto/conto/ poema e justificação dessa escolha
5. texto historiográfico/crítico acerca da obra
6. Imagens que ilustrem a época
7. Texto pessoal, indicando o impacto produzido pela obra
8. Bibliografia consultada

Facultativo

9. Reescrita, prolongamento, imitação, transformação, ilustração, conversão de textos
10. Declamação, dramatização

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Para ver a peça: RTP Memória

http://www.rtp.pt/rtpmemoria/?t=UM-AUTO-DE-GIL-VICENTE.rtp&article=1195&visual=2&layout=5&tm=8

"Um auto de Gil Vicente"

Um auto de Gil Vicente, de Almeida Garrett
(1838)
Um auto de GV1
Um auto de Gil Vicente, de Almeida Garrett, enc. Luís Miguel Cintra, cenário e figurinos de Cristina Reis, Teatro da Cornucópia, 1996 (Luís Miguel Cintra e Márcia Breia), fot. Paulo Cintra e Laura Castro Caldas.
Escrita por João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett (1799-1854) em 1838 (entre 11 de junho e 10 de julho, como ele próprio esclareceu), a peça Um auto de Gil Vicente marcou a sua opção por uma dramaturgia nacional de inspiração romântica que, anos mais tarde, teria a sua mais elevada realização artística em Frei Luís de Sousa (1843). Garrett abandonava, assim, os seus juvenis esboços dramáticos de pendor neoclássico (Xerxes, 1818; Lucrécia, 1819; Mérope, 1819; Catão, 1821) e aventurava-se em matéria portuguesa, apresentando um drama histórico, em três atos, com a ação a decorrer na corte do rei D. Manuel I. Para celebrar a partida da Infanta D. Beatriz para Sabóia, onde casaria com Carlos III, Gil Vicente prepara a representação da peça Cortes de Júpiter e é em torno desse labor – que suscita o processo metateatral, do teatro dentro do teatro – que se desenrola a trama, insinuando os amores secretos entre a infanta e o poeta Bernardim Ribeiro. A peça de Garrett estreou-se nesse mesmo ano, a 15 de agosto, no Teatro da Rua dos Condes, em Lisboa, sob a direção de Émile Doux e com a jovem Emília das Neves no papel principal, mas só em 1841 seria dada à estampa.
Por uma Portaria Régia de 28 de setembro de 1836 (que decorria da vitória da revolução de setembro), Garrett foi incumbido por Passos Manuel, em nome da Rainha D. Maria II, de apresentar “um plano para a fundação e organização de um Teatro Nacional nesta capital, o qual, sendo uma escola de bom gosto, contribu[isse] para a civilização e aperfeiçoamento moral da Nação Portuguesa”, o que necessariamente implicaria também a escrita de “dramas nacionais".
Um auto de Gil Vicente obedecia também a esse critério de escolher matéria nacional, com figuras históricas em momento de grandeza espiritual e artística do país, como foi o tempo e a corte de D. Manuel I. A peça integrava não apenas o Rei, a Infanta D. Beatriz, Gil Vicente e Bernardim Ribeiro, mas convocava também uma “lenda” dos amores impossíveis entre D. Beatriz e o poeta que foi também autor da novela Saudades, mais conhecida pelas suas palavras iniciais “Menina e moça me levaram de casa de minha mãe para muito longe”.

Emilia das Neves

 

 
Emília das Neves (1820-1883).
No enredo da peça, Garrett inventou que, com o apoio de Paula Vicente (filha de Gil Vicente e que secretamente também amava o poeta), Bernardim se disfarça de moura para num momento do espetáculo se aproximar da Infanta e dela se despedir. Sobre a intenção que o levou a escrever a peça, juntaria à 1.ª edição da peça (1841) a declaração: “O que eu tinha no coração e na cabeça – a restauração do nosso teatro – seu fundador Gil Vicente – seu primeiro protector el-rei D. Manuel – aquela grande época, aquela grande glória – de tudo isto se fez o drama. Não foi somente o teatro, a poesia portuguesa nasceu toda naquele tempo; criaram-na Gil Vicente e Bernardim Ribeiro, engenhos de natureza tão parecida, mas que tão diversamente se moldaram.” (GARRETT 1966: 1324, 1325).
Para lá desse intuito patriótico na revisitação do passado, movia-o também um projeto de renovação teatral, como escreveu nessa mesma edição: “O drama de Gil Vicente que tomei para título deste não é um episódio, é o assunto mesmo do meu drama; é o ponto em que se enlaça e do qual se desenlaça depois a acção; por consequência a minha fábula, o meu enredo ficou até certo ponto obrigado. Mas eu não quis só fazer um drama, mas sim um drama de outro drama e ressuscitar Gil Vicente a ver se ressuscitava o teatro” (GARRETT 1966: 1326).»

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Camilo Pessanha II


 


«Filho natural dum estudante e duma moça do povo, nasceu em Coimbra, em 1867. Precisa-mente a 14 de Outubro de 1885, escreve seu primeiro poema: "Lúbrica". Ingressa na Faculdade de Direito e forma-se em 1891. Em 1889, colabora na revista O Intermezzo e num jornal de província (O Novo Tempo, de Mangualde). Formado, em 1894 parte para Macau como professor do ensino secundário, onde trava amizade com Venceslau de Morais. Também como este, orientaliza-se e contrai o vício do ópio. Em 1900, passa a Conservador do registo predial em Macau. Enquanto isso, vai publicando em jornais de províncias suas estranhas composições. Visitou Portugal mais de uma vez (uma delas entre 1905-1909 e a outra em 1915), para matar saudades e em tratamento de saúde: é nesta última estada que João de Castro Osório recolheu alguns dos poemas que Camilo sabia "de memória", e instou para que ele "transpusesse" outros para o papel. Assim, reuniu boa parte de sua produção poética. Roído pelo ópio, com nervos destrambalhados, faleceu em Macau, em 1926.
Alguns dos poemas colhidos por João de Castro Osório foram publicados por Luís de Montalvor na revista Centauro (1916) e mais adiante, acrescidos de outros, vieram a formar um volume, de título Clépsidra (1920), cuja ordenação obedeceu à vontade expressa do poeta, mas que só enfeixa parte de sua produção. Na edição de 1945, juntaram-se alguns inéditos e dispersos, mas não é tudo ainda, embora sua "obra completa" sempre venha a dar um magro volume: tendo os poemas "de memória", é de crer que vários deles não chegaram a ser escritos, ou melhor, transcritos. Em 1944, publicou-se um volume, China, com artigos vários de Camilo Pessanha acerca da cultura chinesa.
Diferindo essencialmente dos demais poetas do tempo, Camilo Pessanha enquadra-se de modo nítido, justo, na estética simbolista. Nele o Simbolismo se realiza em todas as suas características fundamentais. A obra poética de Camilo Pessanha se autentifica, em princípio, pelo alto sentido abstracto, vago, difuso, próprio de quem, por ser simbolista nato e possuir um temperamento ultra-sensível, se sente inadaptado à existência, que só lhe causa desengano e dor. O poeta, contudo, deseja fugir, aplacar a dor que a pouco e pouco se transmuta em Dor, mas sabe que a Dor é, paradoxalmente, tudo quanto possui, pois, "sem ela o coração é quase nada", como confessa, no primeiro soneto de "Caminho", a ponto de sentir saudades desta dor que em vão procura "do peito afugentar bem rudemente". Cria-se uma ambivalência de sentimentos que constitui o cerne de sua poesia. Quando tal ambivalência se alarga, deparamo-nos com um poeta ansioso por "Deslizar sem ruído, / No chão sumir-se, como faz um verme", isto é, regressar a um estado de inércia que, prolongado, significa restabelecer condições de bem-estar peculiares a um estágio anterior ao nascimento, num limbo ou numa espécie de não-vida. Qualquer coisa como saudade de haver pertencido a um diverso tipo de realidade, descarnado de sua condição humana e reduzido então a um desejo vago, ou ser informe antes de vir ao mundo. Ou, ainda, desejo búdico dum nirvana para aplacar um doloroso sentimento schopenhaueriano da existência.
Por outro lado, a ânsia do inquietante certeza de continuar amanhã, do futuro, traz-lhe a preso à perturbadora presença da Dor. Nasce daí a abulia, a doença da vontade, que resulta de tudo já existir no poeta como íntima e arraigada emoção que não se exterioriza, ou se exterioriza, como desalento perante qualquer gesto concreto, prático, ao aderir à realidade que só angústia e estranheza lhe causa. Em consequência, brota um denso pessimismo sem melancolia, subtil, despido de angústia ou de estertores, fruto de profundo sentimento de decadência, de diluição. Esboroa-se o mundo em derredor, porque o "eu" do poeta se vai desmanchando aos poucos, à medida que os dias passam e,aumenta a sensação de inócuo e de inutilidade cósmica. A própria vida é inútil. O poeta, dotado de agudíssima sensibilidade, que se conhece e se auto-analisa, só encontra motivo de ser naquilo de que foge tanto: a Dor, causa e efeito, princípio e fim.
É, por isso, o poeta da Dor refinadamente subtilizada e diafanizada, a ponto de se tornar ídolo: "Porque a dor, esta falta d`harmonia (...) Sem ela o coração é quase nada".
O processo, desenvolvido até o limite, arrasta-o a uma espécie de delírio próximo da loucura, provocando-lhe a íntima suspeita de que tudo é caos e alogicidade.
Estranheza total que o convida a introjetar-se mais, perder-se e refugiar-se num monólogo que sabe anódino ou oriundo da incrível Dor de existir sem remédio, sem causa, sem justificativa.
Trazendo para a Literatura Portuguesa tal subtileza, requintadamente artística mas vivêncialmente humana, Camilo Pessanha reflectia com nitidez aquele clima de degenerescência geral na Europa, de que o Simbolismo e o Decadentismo eram as mais evidentes expressões literárias. Ao mesmo tempo, sua poesia encontra motivos em seu caso pessoal, o que faz acreditar ter o "exílio" (os vários anos do Oriente) exercido enorme influência em seu espírito, tanto mais próximo da atmosfera simbolista do tempo quanto mais afastado e mais só se encontrava o poeta. Dir-se-ia que Camilo Pessanha seria um poeta simbolista mesmo sem o Simbolismo, tal a purificação que alcançou operar numa poesia, como a Portuguesa, tirada ao declamatório e ao sentimentalismo piegas, quando não ao formalismo vazio de tantos neoclássicos. Entenda-se, porém, que se trata dum poeta medularmente português: doutra forma não compreenderemos o núcleo sentimentalmente filial da sua poesia, próprio de um hipersensível ansioso de aconchego materno, mas que o recusa por sentir-lhe a força e o império, e porque deseja cultivar a Dor, com prazer masoquista. Se colocarmos de um lado a Pátria, a Mãe, a infância e o perene sentimento de saudade, e de outro, o culto da Dor, teremos estabelecido a equação tipicamente Portuguesa do dilacerante drama de Camilo Pessanha. Já no poema "Inscrição", que serve de pórtico ao volume, se patenteia a insuperável dependência do poeta para com tudo quanto lhe informara o espírito e a sensibilidade: "Eu vi a luz em um país perdido." Se entendermos por "país perdido" mais do que Portugal, isto é, a infância conjugada a um sentimento de pátria, não à coisa pátria, e despido o adjectivo "perdido" de qualquer ideia polémica, - patenteia-se às claras o fulcro dramático da poesia de Camilo Pessanha.
Doutro lado, seus recursos de linguagem, traduzindo o desmoronamento do "eu" e do Cosmos, liquefazem-se, simplificam-se, despem-se da lógica tradicional e revestem uma sintaxe psi cológica, interior, musical, de quem elabora o poema por automatismo, à procura das expressões capazes de sugerir tudo quanto lhe vai na alma. A palavra, nele, torna-se transparente, reduzida aos sons e aderida à própria sensação, o que impede o julgamento preciso e directo de seu conteúdo. Tudo isso, mais o à-vontade, acompanhado de surpreendentes alianças gramaticais em apoio do enquadramento de intuições nascidas em planos diferentes (presente, passado, futuro; a cor, a música, o olfacto, etc.), formando sinestesias contínuas e subtis, fazem dele um dos Maiores poetas da Literatura Portuguesa, e permitem ver em sua poesia alguns dos caminhos perseguidos por um Ferrando Pessoa ou um Mário de Sá-Carneiro. Servem como exemplo relativo a este último os versos já referidos em que Camilo Pessanha fala de seguir "a medo na aresta do futuro"; quanto a Fernando Pessoa, que lhe reconheceu o influxo sobre sua personalidade, e conhecia-lhe versos de cor, leia-se o seguinte: Porque o melhor, enfim É não ouvir nem ver... Passarem sobre mim E nada me doer! Cessai de cogitar, o abismo não sondeis. Adormecei. Não suspireis. Não respireis.
Pelo que aí vai, compreende-se perfeitamente que o justo e merecido prestígio de Camilo Pessanha tenha aumentado de uns anos para cá, no conceito da crítica e dos leitores: em oposição a António Nobre, é um poeta cuja profundidade só se oferece lentamente ao leitor, exigindo-lhe paciência de espeleólogo. Doutra forma, perde-se tudo quanto ele pode revelar, ao contrário de António Nobre, que logo nos contagia com a transbordante carga emocional de sua poesia, mas, por isso mesmo, cujo fascínio logo desaparece. A dificuldade que Camilo Pessanha põe ao acesso em sua intimidade significa a doacção duma poesia autêntica e original, que perdura longamente no espírito do leitor. Assim é o grande poeta, assim é Camilo Pessanha.»


Massaud Moisés, A Literatura Portuguesa
Editora Cultrix, São Paulo

Camilo Pessanha I



«Depois de se ter formado em Direito pela Universidade de Coimbra, partiu como professor para Macau, onde permanecerá, depois como conservador do registo predial, grande parte da sua vida e onde terá convivido durante escassos anos com Wenceslau de Morais. Ocupando uma posição marginal relativamente aos movimentos, polémicas e publicações que marcaram a última década de Oitocentos, Camilo Pessanha foi compondo uma pequena mas significativa obra poética, esparsamente divulgada em pequenas revistas e jornais, e apenas coligida em 1920, pelo empenho de um amigo e admirador, João de Castro Osório. Considerada o que de melhor produziu o simbolismo português, a sua obra aponta em vários aspetos para a estética modernista, sendo, aliás, da responsabilidade de Luís de Montalvor, um dos elementos de Orpheu, a divulgação em primeira mão de um conjunto de poemas de Pessanha na revista Centauro. A poesia de Camilo Pessanha articula o equilíbrio musical do verso, a capacidade de sugestão de sentidos a partir de elementos significantes, proveniente de um simbolismo de matriz verlainiana, com a elevação da imagem à categoria de símbolo, teorizada por Baudelaire ou Mallarmé, como alicerces de uma poesia elaborada ao ponto de ocultar o seu rigor construtivo e encarada como forma intelectualizada de compreensão da relação entre o eu e a realidade. Revelado pelos modernistas, este autor deve a sua redescoberta, até certo ponto, à iluminação recíproca que estabelece com a obra de Fernando Pessoa, devendo-se o primeiro estudo exaustivo da sua obra, em 1956, à ensaísta Esther de Lemos, a que se seguiriam, nas décadas seguintes, trabalhos fundamentais sobre Clepsidra, da autoria de Urbano Tavares Rodrigues e Óscar Lopes. Segundo este último ensaísta, "Pessanha traz à poesia portuguesa toda a dinâmica até então insuspeitada do momento subjetivo no domínio da perceção, desarticulando a perspetiva puramente geométrica a que a descrição parnasiana obedece, mobilizando os modos afetivos de reação à realidade sensorial", e alcançando, na "expressão estilística concreta", "a dialética das perceções ou imagens e de uma subjetividade individual" (cf. Entre Fialho e Nemésio, vol. I, Lisboa, INCM, p. 136).»


Camilo Pessanha. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012. [Consult. 2012-11-14].
Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/$camilo-pessanha>.

Um passeio virtual pela galeria Camilo Pessanha...

... proporcionado pela Biblioteca Nacional.

Camilo Pessanha (09/04/2008)


segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Texto de apreciação crítica, pela Marta


Para declamar um poema temos de o saber interpretar e perceber o seu tema.  

Carla Bolito é pouco expressiva. Daniel Rodrigues não faz pausas, não altera a voz quando necessário e não se exprime de forma correta. Rita Reis tem um tom de voz bonito e os seus olhos brilham como se tivesse saudades. Nick Mengucci tem o tom de voz adequado, mas não põe emoção nas palavras. Cláudia Effe começa logo por se diferenciar quando declama de pé. A sua voz é bonita, tem um tom de mistério, a suas expressões mostram-nos lembranças que o poema expressa e que ela mostra, a respiração é a mais adequada, dando teatralidade e musicalidade ao poema.

Em suma, foi desta declamação que mais gostei e que achei mais adequada para o poema.

(texto com alterações)

Texto de apreciação crítica da Tatiana


 

Devo começar por dizer que já conhecia este poema e gostava bastante dele. Acho que está muito bem conseguido por também ter sido escrito por um grande poeta.

Começando por ordem, vou dizer o que mais e o que menos gostei em cada um. Cláudia Effe declamou as duas primeiras estrofes com uma veracidade avassaladora, mas já não posso dizer o mesmo das duas últimas. A declamação de Daniel Maia-Pinto Rodrigues foi demasiado rápida, o que não proporcionou ao leitor uma agradável audição. Rita Reis cativou-me essencialmente pela voz poderosa quando declamava, mas também não achei que fosse a melhor, assim como Mick Mengucci, cuja pronúncia achei, contudo, muito divertida.

A meu ver, e para finalizar, a minha favorita foi, sem dúvida, Carla Bolito. Adorei a forma com que ela se exprimiu, de forma clara, e também gostei do facto de utilizar as mãos para “falar”.

 

(texto com algumas alterações)

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Texto de apreciação crítica da Ana

   Antes de expor as minhas apreciações, queria salientar que este poema é bastante interessante.
    Reparei que a atriz, Carla Bolito, se exprime de várias formas (os olhos, as maçãs do rosto e as mãos), o que poderá levar ao ouvinte uma agradável audição. Acrescento ainda que, na parte onde fala “…do vento seco de deserto…” o transmitiu de forma verídica. O escritor Daniel Rodrigues não proferiu o poema de forma correta, pois disse-o de forma excessivamente rápida, ao contrário de Rita Reis, que o leu de forma clara e cujas expressões faciais se alteram quando muda de situação. Parecia que a sua cara tinha um ponto de interrogação porque não sabia de onde vinha o vento seco. Isto também acontece com o músico, Mick, que eleva a voz nas situações adequadas e dá a sensação que o viveu. Só gostei das duas primeiras estrofes pronunciadas por Cláudia Effe, que aproveita as pausas para respirar e aplica-as no poema como se tivesse que as fazer, mas à parte.
   Concluindo, os declamadores de que mais gostei foram Rita Reis e Mick Mengucci.

 Ana Catarina

 (texto com alterações)

domingo, 28 de outubro de 2012

Declamar: todo um programa...

Como sabem, de acordo com o programa de literatura portuguesa, nas aulas de poesia deve haver momentos de declamação, "performance" e dramatização.
 
Porém, declamar é "todo um programa". Há tantas versões de um poema quantas as pessoas que se decidirem declamá-lo. E, embora esteja ciente de que o que vou escrever escandalizará muitos, não sou grande apreciadora de um dos mais conhecidos declamadores nacionais, João Villaret. É por saudosismo que gosto de o ouvir.
 
Detesto histerias declamatórias. Ao invés, gosto de leituras, e declamações, bastante neutras. Aprecio um - nem sempre muito neutro - Mário Viegas.
 
E vocês? O trabalho para casa que lhes proponho consiste em escolher, das diversas versões do poema de António Nobre que publiquei, aquela que lhes agrada mais. Num texto com um mínimo de 90 e um máximo de 100 palavras, devem justificar a vossa escolha (obedecendo aos preceitos do texto de apreciação crítica).

[Na praia lá da Boa Nova, um dia], António Nobre - Carla Bolito


[Na praia lá da Boa Nova, um dia], António Nobre - Daniel Maia-Pinto Rod...


[Na praia lá da Boa Nova, um dia], António Nobre - Rita Reis


[Na praia lá da Boa Nova, um dia], António Nobre - Mick Mengucci


Um Poema por Semana, RTP2 - Antonio Nobre - Claudia Effe .mp4


Quem foi... António Nobre? II

 
«Perfil Literário

 
A debilidade física e a preocupação com a morte foi algo que marcou de forma indelével a sua personalidade, desde logo por ser o mais mimado e superprotegido da família, e concedeu à sua obra o carácter egotista que a caracteriza.

Se nos seus poemas pesa o pendor triste, dramático e desesperado, nas suas cartas vibra aqui e além o apego à vida, a esperança da cura e também a alegria.

A sua escrita entre 1895 e 1889, com algumas excepções de sonhos de amor e glória, dão largas à amargura e angústia de uma existência vincada pelo medo da morte mas também pela resignação.

Só, o livro referência que nos deixou, foi publicado em Paris em 1892, considerado pelo próprio "o livro mais triste que há em Portugal". O livro surge no contexto de depressão moral colectiva quando ainda se fazia sentir a vaga de comoção originada pelo romantismo, mas o Só é também marcado pelo temperamento melancólico de A. Nobre, pela subjectividade expressa na exclusiva preocupação consigo próprio, mesmo quando se mostra atento ao mundo envolvente que o liga às memórias da infância.

A importância de A. Nobre é fruto da forma coloquial e efabulada como soube falar de si mesmo, especialmente no Só. A sua compleição frágil e porte sedutor faziam com que se notasse em toda a parte, a forma como compunha as suas roupas evidenciavam-no, o seu amigo Alberto Oliveira informa-nos que: "deu nas vistas, e as mais bonitas raparigas prendiam nos dele os seus olhos...".

A exacerbada consciência da sua singularidade, a confiança no interesse espontâneo que suscitava e que ele procurava tornar mais vivo, são a calda de originalidade dos seus poemas, ou seja, António Nobre sobrepõe-se a todas as influências possíveis de encontrar nos seus versos: o romantismo, o realismo e o simbolismo.


Insere-se numa estética decadentista/simbolista, renovando o romantismo de Garrett e anunciando o modernismo de Sá-Carneiro. É figura dominante do grupo Boémia Nova. A tuberculose, que cedo o atacou, forçou-o a uma vida de peregrinação pela Suíça, Inglaterra e Madeira, acabando por morrer precocemente, o que não impediu que o nome de António Nobre figura entre os grandes poetas da literatura portuguesa de todos os tempos, levando Fernando Pessoa a afirmar: "Ele foi o primeiro a pôr em europeu este sentimento português das almas e das coisas, que tem pena de que umas não sejam corpos, para lhes poder fazer festas, e de que outras não sejam gente, para poder falar com elas".»
 

Quem foi... António Nobre? I


«Nasceu no Porto, em 1867. Depois dos primeiros estudos, segue para Coimbra com o intuito de estudar Direito, mas desgosta-se do ambiente académico, sobretudo do trote de iniciação, que lhe causa profundo vexame. Em consequência, refugia-se na sua "torre de Anto", longe do bulício e das sebentas. É já, nessa altura, um poeta hipersensível, todo voltado para dentro de si e para os distantes anos da infância em sua cidade natal. Reprovado duas vezes, segue para Paris a fim de levar a cabo seu intento de bacharelar-se, o que finalmente consegue, não sem grandes sofrimentos morais. Esses anos parisienses são-lhe de grande impor-tância, particularmente do ângulo poético: sua poesia amadurece e frutifica num volume, o Só, publicado em 1892, sob a inspiração do Simbolismo Francês, sobretudo de Verlaine, graças à consanguinidade de temperamento e sensibilidade. Já nessa altura, senão antes, começam a aparecer-lhe os primeiros sintomas da tuberculose. De volta a Portugal, revisita os lugares queridos da -infância em busca de saúde, que sente fugir-lhe progressivamente. A conselho médico, vai à Madeira, à Suíça e a Nova Iorque: tudo em vão, pois a moléstia lhe havia minado de vez o débil organismo. Regressa definitivamente aos penates, à espera da morte, que sobrevém no mesmo ano em que falece Eça de Queirós: 1900. Morre com apenas trinta e três anos.
Ao falecer ainda moço, António Nobre deixava publicado um único livro, o Só (1892), e alguns inéditos que vieram a constituir dois volumes, as Despedidas (1902) e os Primeiros Versos (1921). Dotado de estranha e refinada sensibilidade, que o fazia um esquizóide e um alfenim, facilmente se deixava atingir pelas pessoas com as quais era obrigado a entrar em contacto e pelas circunstâncias adversas que teve de enfrentar pela vida fora. Desse modo, na essência mesma de sua hipersensibilidade era um romântico acabado. Sua cosmovisão comprova-o nitidamente: sentimental, emotivo, introspectivo até onde alguém pode ser, exilou-se totalmente da realidade circundante e passou a viver isolado, em sua "torre de Anto" real ou fictícia, entregue a um solipsismo doentio e narcisista.
Esse narcisismo denotava um temperamento passivo, feminóide, e uma debilidade psíquica e física, que o tornavam presa fácil das emoções mórbidas e da tuberculose que o vitimou. Mis ainda: fazia-se acompanhar duma nota de autocomiseracção lo transformada numa melancolia e num tédio ensombrados pela p sença da Morte, ao mesmo tempo desejada e odiada. Por s vez, a autocontemplação enche-se de ternura e de piedade consoladora, e gera um pessimismo de derrotado antes de lutar, próprio de quem contempla a inexorável passagem das horas sem poder interromper-lhe a progressão, e, pior ainda, tem a dolorosa sensação de que a vida se esvai inútilmente, antes de ser vivida.
O resultado é que o poeta acaba vendo tudo através duma cortina de lágrimas, tomado dum sentimento ambíguo e entristecedor: a um só tempo, desadora a vida porque esta lhe parece schopenhauerianaménte um fio ininterrupto de dores, e lastima abandoná-la. Dela recebe não só amarguras, mas também um gozo estético e afectivo, no amor da Mulher ("Purinha": "Aquela que, um dia, mais leve que a bruma,/ Toda cheia de véus, como uma Espu-ma,/ O Senhor Padre me dará para mim"); na contemplação comovida da terra natal e no encontro, em plenitude enternecida, de seus familiares ("Viagens na Minha Terra") ; no congraçamento com os deserdados da fortuna, nos quais o poeta enxergava irmãos de dores e aflições ("Males de Anto": "Aos pobrezinhos enxugava-lhes o suor./ A minha bolsa pequenina de estudante,/ Era pros pobres."); e no encontro de outros valores espirituais. Mas o voltar-se para fora é ainda como se estivesse flectido para dentro de si, pois o poeta incorpora os seres e as paisagens que contempla como se fossem emanações orgânicas do seu "eu" hipertrofiado às raias de se tornar do tamanho do mundo.
Entretanto, ao debruçar-se absortamente em seu mundo interior, António Nobre realiza uma espécie de amarga reflexão sentimental de sua via-crucis dolorosa até à cova, sob o acalanto da Morte, do Fado inamovível ("A Morte, agora, é a minha Ama / Que bem sabe acalentar!"). E ao meditar a sua obsessão, o poeta desintegra-se paulatinamente, como se bastasse lembrar para diminuir, em vez de aumentar, o espaço que o separa do Nada temi-do, odiado e a um só tempo esperado. Como se nota, desencadeia-se um movimento em espiral que envolve toda a poesia de alguém que se julgava "o poeta-nato, o lua, o santo, o cobra!", um poeta pessoalíssimo, senhor dum individualismo narcisista que o afastou de Maior influência constrangedora: um poeta portuguêsíssimo, pela retomada da tradição que remonta à Idade Média e pelo culto enternecido da paisagem e da gente Portuguesa.
Dessa forma, para António Nobre iam convergindo várias linhas poéticas em curso no seu tempo: algumas delas vinham do Romantismo, concentradas na atitude da pose e da vaidade em feminino, da artificialidade e da máscara teatral, herança de Garrett, seu mestre em dandismo e em poesia de requinte e finura: "Ora, às ocultas, eu trazia / No seio, um livro e lia, e lia, / Garrett da minha paixão... ". Ao seu neogarrettismo se juntava a presença de notas trazidas pelos ventos novos do Simbolismo (as vaguidades, as sinestesias, o mistério das coisas, o gosto do oculto, do supersticioso, as atmosferas neblinosas, etc.). Ainda se observa em António Nobre qualquer coisa da poesia do quotidiano realista, mas, como sempre, acomodado ao seu peculiar feitio de sensitivo incapaz duma rebeldia heróica: "Olha! Estudantes, dando o braço às raparigas, / Caras de leite, olhos de luar, tranças d'estrigas".
Entenda-se, porém, que tudo isso constituem forças estimuladoras da atmosfera literária em que António Nobre se formou, e não influência despersonalizadora: o poeta só aceitava os estímulos externos que lhe correspondiam às mais íntimas propensões de romântico por natureza e sensibilidade. Em suma: era demasiado egocêntrico para seguir outros caminhos que não os descortinados por sua intuição, faculdade que nele parece coincidir com o chamado sexto sentido feminino, tão aguçada é no registo de vibrações mínimas da sensibilidade. Por conseguinte, torna-se difícil encaixar no Simbolismo um poeta dessa categoria, ainda para mais preso medularmente ao solo natal, a ponto de exclamar nas "Viagens na Minha Terra": "6 paisagem etérea e doce, / Depois do Ventre que me trouxe, / A ti devo em tudo que sou! ".
A esse portuguêsismo garrettiano, telúrico e apaixonado, vincula-se outra característica de António Nobre: poeta estritamente emocional (com todas as restrições e sentidos que implica tal classificação); nele a razão ou a inteligência exerce pouca ou nenhuma influência. Pletórico de emoção, para ele o mundo; é Portugal, "essa doida terra", "cheia de Cor, de Luz, de
Som": uma visão estética, portanto, e emotiva, semelhante à da mulher, para não dizer que prolonga a do menino de "olhos tão doces" que foi. António Nobre vive obcecado com a infância, seu "paraíso perdido": "Menino e moço, tive uma Torre de leite, / Torre sem par!"
Tudo isso, mais o seu ensimesmamento de hipersensível alheio aos ruídos da vida literária, ajuda a explicar que não alcançasse em vida a nomeada de Eugénio de Castro.
Entretanto, soube realizar o que o outro não pode: graças à anarquia de base que lhe punha romanticamente a alma em torvelinho, colaborou para libertar o sentimento poético da opressão das preceptivas e códigos literários, aceitos consciente ou inconscientemente por quase todos. Essa como incapacidade para aderir às normas, esse inconformismo natural, tornou-o verdadeiramente um precursor da poesia moderna, pelo menos nalguns aspectos de sua obra. António Nobre promoveu, em poesia, a revolução de linguagem levada a efeito por Garrett: introduziu-lhe o tom narrativo, oral, coloquial quase prosaico, numa arritmia às vezes acompanhada do emprego de versos assimétricos.
Está certo que estes, Eugénio de Castro os empregava desde o Oaristos, mas sem convicção, como se praticasse um mero exercício de expressão poética. Em António Nobre, ganham um travo moderno, graças ao à-vontade do poeta, que nos dá a impressão de criar seus poemas à medida que fala, em vez de construí-los artesanalmente, no silêncio de seu gabinete de trabalho.
O tempo constitui outra força-motriz da poesia de António Nobre, em que também se patenteia seu cariz moderno: tempo quase sempre passado, indicativo dum poeta volvido para as lembranças autobiográficas, no culto mórbido da saudade. Por isso, o saudosismo é outra marca de sua poesia: pode-se dizer que todos os poemas do Só, obra que mais de perto interessa, pois o resto ou é póstumo ou corresponde às primícias do poeta, tem como fulcro a saudade.
Mais importante que o tempo-saudade para aferir da modernidade de António Nobre é o tempo-duração, que já se vislumbra em sua poesia: em mais de um passo, o poeta fala do fluir irremediável do tempo e articula suas lembranças em dois planos pretéritos, como é o caso por exemplo de "António" ou da "Lusitânia no Bairro Latino", planos esses correspon-dentes à noção de que o tempo transcorre não em linha reta mas em ondas que abarcam simultaneamente o presente, o passado e mesmo o futuro.
Tudo isso revela um poeta moderno: poeta "inspirado", espontâneo, abriu caminho em Portugal para o reconhecimento da poesia como "ciência demoníaca", na esteira de Baudelaire, de cuja fascinante revolta não ficou totalmente alheio. A poesia de António Nobre respirava pureza e primitividade pouco frequentes, qualidades suficientes para abrir trilhos novos na poesia contemporânea e tornar-se prenúncio claro da deificação do acto poético, preconizado e realizado pelo grupo do Orpheu, especialmente por Mário de Sá-Carneiro, tão emotivo e hipersensível quanto o autor do Só. Criticamente, este último provoca menos vibração intelectual que Camilo Pessanha, mas, se nos dermos à leitura de sua poesia sem preocupações de ordem crítica, e sim com o intuito de conviver com a beleza que gera emoção estética, - então haverá poucos poetas portugueses que se lhe comparem.»
(In http://books.google.pt/books?id=xcQYSXj0xN0C&pg=PA214&lpg=PA214&dq=ant%C3%B3nio+nobre+massaud+mois%C3%A9s&source=bl&ots=mufX6d2Wys&sig=B2Qk97wXId0ww2R6MjgkizExhuo&hl=en&sa=X&ei=qXmNUJqOC9GwhAezu4HACg&ved=0CBkQ6AEwAA#v=onepage&q=ant%C3%B3nio%20nobre%20massaud%20mois%C3%A9s&f=false)

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

As "Folhas caídas", de Almeida Garrett

Encontrei, no blogue de um professor "nosso vizinho" (http://bloguedosapontamentos.blogspot.pt), os seguintes apontamentos:
«Eis alguns apontamentos que a leitura e a análise de Folhas Caídas suscitaram:

1. Este livro de poemas de Almeida Garrett nasce já numa fase adiantada da sua vida, como o título sugere, a idade outonal, quando o autor se julgava incapaz de ser poeta. Confessa o autor que os poemas se referem a «uma época de vida íntima e recolhida». Temos, portanto, simultaneamente um certa tendência para a confusão entre a Poesia e a Vida. Muitos vêem neste livro o espelho de uma paixão amorosa fulgurante que o ligou à viscondessa da Luz , Rosa de Montufar, remetendo assim um número significativo de poemas para referentes reais (o autor e aquela senhora da alta sociedade). Tal confirma-se ao nível dos textos pela profusão nas referências a luz e rosa. Por tudo isso, o livro Folhas Caídas foi lido pelo público de então como quem devassava um escândalo.

2. Nesta colectânea podemos encontrar dois grupos de poemas. Um grupo de poemas versa a temática amorosa, numa feição quase confessional, em que o sujeito poético transporta para a poesia os acontecimentos da sua história de amor, com todos os ingredientes de uma relação intensa de amor /paixão. Há mesmo quem vislumbre aí um certo exibicionismo, tão comum à personalidade marcante do poeta.
Outro grupo de poemas, sobre os quais não tem incidido de igual modo a atenção dos leitores, é constituído por poesias de circunstância mundana («Álbum», «Exilados» , «Adeus, mãe!»... ), que mais não são do que um atenuante do autor para a apresentação dos poemas da circunstância amorosa.

3. A disposição dos poemas relaciona-se com o carácter algo teatral de Garrett, que gostava de encenações, de aparato cénico. Assim se justifica que a colectânea abra com um poema/dedicatória mistificadora a um «Ignoto Deo» (a um deus desconhecido), que com a «Advertência» constitui o verdadeiro prólogo e introdução do livro.
No poema «Ignoto Deo» o poeta expressa a apetência por um idealismo de carácter platónico, onde valoriza o ideal de beleza, de verdade, o puro amor, a essência. Aí reforça o sentido do livro que apresenta a essa mulher que será a expressão viva do Ideal: «a confissão sincera /da alma que a ti voou e em ti só espera».
Segue-se, depois, a exposição da sua história de amor. O sujeito poético desenvolve essa história em três fases: sedução, idílio, e saturação, que precede a ruptura. Todavia esta história é escrita de forma anacrónica, pois o poema «Adeus» , embora seja o primeiro dessa história de amor, refere-se já ao fim da paixão amorosa, ou seja a ruptura dos amantes. Esta ruptura, associada à consciência de perda irreparável, reflecte uma situação psicológica dramática - a recusa à intimidade e ao amor, devido ao sentimento de «íntima vileza» . No fundo o sujeito poético expressa a sua incapacidade de amar, como resultado do sentimento de indignidade que se reconhece: «Este que amar-te não sabe / Porque é só terra - e não cabe /Nele uma ideia dos céus...».
Depois o poeta passa para a retrospectiva da sua história de amor. Os poemas que versam a fase da paixão são os seguintes: «Quando eu sonhava» , «Anjo Caído». O poema «Aquela Noite» trata a temática da brevidade do amor à primeira vista («coup de foudre»), que submete num instante a vida ao poder da fatalidade. Aí está bem patente a imagem da ‘mulher fatal’, aquela que provocou todo o desenvolver desta história de amor, que se prevê trágica, como se vê na presença das expressões «negro fado», «loucura», «sedução». No poema «Adeus» foi o homem, com toda a sua vileza que levou à degradação do amor e da mulher. Neste poema dá-se o contrário.
No poema «Anjo Caído», a mulher foi novamente vítima de dor e aviltamento pela ligação a um homem incapaz de verdadeiramente amar, afastando-se já da mulher fatal. Ela é o «anjo caído» que arrasta na sua queda o homem que a perdeu.
Os poemas da fase da plenitude amorosa iniciam-se com «Este Inferno de Amar» e vai até ao poema «Coquette dos prados». Estes poemas reflectem um amor em que há uma entrega total ao presente. Explora-se, aí, o jogo das antíteses inerentes à expressão do amor, imprimindo-lhe uma veemência única na poesia amorosa portuguesa, o que realça o realismo da experiência sentimental. No poema «Este Inferno de Amar» a vivência amorosa está associada à consciência de pecado, o que provoca a dualidade trágica em que se debate o eu poético apaixonado, dividido entre a aspiração a um amor «de alma», expressa nas imagens-símbolo «estrela», «céu», e a atracção da «carne», simbolizada pelo «fogo do inferno» e pelas «trevas».
O poema «Destino» constitui a auto-justificação do apaixonado, no sentido de resolver o dilema moral em que se debate: a sua submissão ao poder do amor como expressão do fatalismo próprio de todas as coisas da Natureza, e a que não pode fugir, porque é indispensável à sua razão de existir. Porém no poema «Adeus» tal é contrariado, pois aí se vincam as ideias da transitoriedade e da frustração próprias de toda a vivência amorosa.
No poema «Gozo e Dor» o poeta infringe todas convenções literárias e canta o amor físico e a posse da mulher amada. E nos poemas seguintes («Rosa sem espinhos», «Rosa pálida») há conotações deliberadas, com o fim de desvendar as suas motivações eróticas, talvez com o intuito de perpetuar pela escrita o que é efémero. Nestes poemas é de salientar as cumplicidades da intimidade amorosa expressas num tom de confidência espontânea, galanteadora, parecendo fútil, mas reforçada com a veemência apaixonada. Seguem-se alguns poemas cujos temas em destaque são o fatalismo da paixão e a ânsia de morrer, assim como a descrição alegórica da amada pela referência à flor ( poema «Rosa e Lírio»). Tratam-se dos poemas que correspondem ao idílio amoroso.
O poema «Rosa e Lírio» é, no entanto, um prenúncio da fase da separação, ainda que indirectamente: expressa-se uma oposição, que supõe uma antítese moral, embora em forma alegórica, - rosa /beleza / indiferença ; lírio / martírio /paixão .
O poema «Os cinco sentidos» constitui o centro das poesias que exprimem o amor-paixão. No poema através da expressão gradual dos sentidos se nota uma aproximação maior até ao contacto e à união total com a mulher amada. O amor daí resultante ultrapassa o prazer dos sentidos, pois vai até à morte «Em ti a minha sorte, / A minha vida em ti; /E quando venha a morte, / Será morrer por ti».
A fase seguinte é a fase da saturação ou se quisermos da desilusão. Corresponde a poemas como «Cascais», «Víbora». No primeiro evocam-se os momentos que se viveram felizes, isolados do mundo identificando-se com tudo o que os rodeava. Mas depois surge o desengano e a separação. E já nada daquela paisagem vista subjectivamente como «sítio encantado» aparece na natureza.
No poema «Estes Sítios», o passado e o presente interpenetram-se na retrospectiva da «história de amor». O amor aí evocado está associado, na perspectiva romântica, ao elogio da vida espontânea, em contacto directo com a natureza. Enquanto isso, o sujeito poético repudia a simulação da vida citadina e social. Nesse poema devem salientar-se as oposições cidade / campo, indivíduo / sociedade, autenticidade / hipocrisia, amor correspondido/ amor frustrado. Este último resultaria da intromissão da mundaneidade (o viver mundano ou social) na intimidade amorosa.
No poema «Não te amo» , o poeta a firma o seu desentendimento com a mulher amada e a sua incapacidade de amar, resultante do seu desdobramento psicológico, expresso no conflito amor / desejo. Neste poema manifesta-se a dicotomia fundamental que caracteriza a poesia de Garrett: amor ( o sentimento envolto em espiritualidade que conduz à salvação e à regeneração do homem) opõe-se ao amor-paixão, que constitui a degradação ou «perdição» do indivíduo.
No poema «Beleza» o poeta distingue entre «beleza» e «formosura», como expressão do dualismo alma / corpo. «Beleza» - remete para o amor espiritual, purificador; «formosura»- é o aspecto físico («formas de encantar»).
No poema «Anjo és» desenvolve-se a antítese anjo/mulher. Aí o poeta sugere a fascinação do eu perante a ambiguidade da mulher, expressa através da dupla interrogação.
No poema «Víbora» exprime-se a revolta contra o poder avassalador da paixão. O amor aí amaldiçoado exprime-se pela antítese vida /morte.

4. O poema «Barca Bela» caracteriza-se pela impessoalidade e ausência de dramatismo, com grande simbolismo e de feição alegórica. Ele condensa através de imagens-símbolo, em ambiente de fatalidade, toda a vivência amorosa do poeta. Este, tal como o herói romântico, o homem fatal ( «o pescador») só fugirá aos riscos terríveis do amor-paixão se recusar a pesca (sedução) da mulher-sereia, que fascina pelo seu encanto, mas que arrasta para a perdição.

5. Linhas temáticas mais dominantes:

·A expressão sincera de um coração dominado pela paixão amorosa.
·A expressão de um amor sentido e vivido e não já uma simulação ou a idealização de um amor, simplesmente intelectualizado e expresso em moldes convencionais, como nos clássicos.
·O tom confessional dos seus poemas de circunstância amorosa, alguns poemas integram-se na linha da «poesia de alcova» que caracteriza alguma poesia romântica. Alguns poemas apresentam uma certa feição dramática. Esta revela-se na constante dialéctica entre o eu poético e um tu - mulher amada. A mulher amada, interlocutora, é invocada quando ausente, ora através das inúmeras apóstrofes que a evocam, ora se sugere a sua presença nas respostas repetidas pelo sujeito poético ( poema «Adeus»).
· O amor-paixão: sentimento repleto de contradições, expressas em antíteses de vida/morte, amar/querer ( amor da alma / amor do corpo), sensualidade-erotismo / idealismo.. Esse amor resulta do encontro contraditório entre uma mulher fatal e o homem ou entre a mulher-anjo que se deixa seduzir pelo homem que apenas a deseja e é incapaz de um verdadeiro amor, que deve ser de alma e não de corpo.
·Um amor que é prazer e dor; que é salvação, quando é de alma ; e é pecado, quando apenas se vive pelos sentidos e pelo desejo.

6. Aspectos formais mais relevantes:

· Valorização das tradições poéticas portuguesas:
- preferência pela redondilha maior (sete sílabas),
- emprego do refrão e do paralelismo («Barca Bela»),
· Grande variedade métrica: adequação ao ritmo e desenvolvimento do tema ou motivo poético : uso de versos de metro raro, tais como os bissílabos e trissílabo («Rosa e lírio»), o verso de nove sílabas (eneassílabo), de onze sílabas (hendecassílabo); e uso do decassílabo heróico, mas com menor frequência.
· Uso de estrofes variadas: quadra, sextilhas, sétimas, oitavas, quintilhas décimas, alguns poemas apresentam estrofes com um número variado de versos.
· Recurso a rimas cruzadas, por sugestão popular, mas também às rimas emparelhadas e interpoladas. O poeta recorreu também às rimas interiores e encadeadas ( poema «Não te amo»).
· Há nos seus poemas o paralelismo, aliterações,.
· A linguagem é quase sempre simples e directa, aparentemente espontânea e marcada pela emotividade: o que está patente no uso da pontuação (travessão, reticências, exclamações).
· Nalguns poemas há marcas de narratividade e do género dramatização: diálogo eu - tu, narração.
· exploração com originalidade de recursos estilísticos: anástrofe, anáfora, interrogação, imagem, reticência, hipérbole, gradação, comparação, a metáfora e a antítese.
Os sinais de pontuação estão ao serviço da expressividade e do dramatismo, fazendo sublinhar as pausas naturais do discurso emotivo.

7. Aspectos românticos:

- O tratamento do sentimento amoroso: sinceridade, sensualidade e erotismo; feição contraditória (amor/ morte; dor/prazer; amor físico - amor ideal);( poemas «Este Inferno de Amar», «Não te amo»);
- Concepção da mulher : mulher-anjo / mulher-demónio («Anjo és» «Barca Bela»;
- Jogo de oposição: natureza-sociedade; homem natural /homem social («Estes sítios» e « Adeus»);
- A natureza como um estado de alma («Cascais» e «Estes sítios»;
- Valorização da tradição poética portuguesa («Barca Bela»;
- Linguagem mais simples , directa e espontânea;
-Valorização da emoção diante da razão.
- O tom confessional de alguns poemas : «Adeus», «Cascais», etc.»

É só clicar e... já está!

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Objetivos para o teste de avaliação

  • Conhecer textos poéticos do século XIX
  • Identificar as marcas caraterizadoras de Almeida Garrett, de acordo com o movimento estético-literário em que se insere
  • Aperceber-se dos traços inovadores presentes na poesia deste autor
  • Analisar poemas, articulando forma e conteúdo

«Barca Bela», de Almeida Garrett


"Rosa sem espinhos" de Almeida Garrett


quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Quem foi... Almeida Garrett?, pela Sónia


 
Este trabalho foi elaborado a pedido da professora de Literatura Portuguesa e com ele pretendo conhecer um pouco mais Garrett, assunto falado já nas aulas anteriores.
Garrett não foi apenas escritor, mas também cronista, historiador, etnógrafo e crítico consciente e, como prova, temos os seus livros.
O que sei deste homem vitorioso é escasso, mas, por isso, vou abordá-lo, para mais tarde relembrá-lo com um pouco mais de sabedoria.

Biografia
João Baptista da Silva Leitão, a que só depois acresceram os apelidos Almeida Garrett, nasce a 4 de Fevereiro de 1799 no Porto.
A 10 de Fevereiro é baptizado na igreja de Stº Ildefonso. Segundo filho, entre cinco irmãos, de António Bernardo da Silva e de Ana Augusta de Almeida Leitão, família burguesa ligada à actividade comercial e proprietária de terras na região portuense e nas ilhas açorianas.
Passou a sua infância na Quinta do Castelo, para onde a família se transferiu, e na do Sardão, ambas ao sul do Douro, no concelho de Gaia. Ao embaixador de velhas histórias e lendas populares das criadas Brígida e Rosa de Lima junta-se o preceptorado do tio paterno, bispo de Malaca, Frei Alexandre da Sagrada Família, e do materno tio João Carlos Leitão, formado em cânones e depois juiz de fora no Faial.
Em 1809 parte com a família para os Açores, antes que as tropas de Soult entrassem no Porto. Passa a adolescência na ilha Terceira, destinado à carreira eclesiástica, entre a escola régia do padre João António e as aulas do erudito Joaquim Alves a que a aprendizagem no seio familiar dava sequência. Chegou a tomar ordens menores com que, por intercedência do tio Alexandre, então bispo de Angra, deveria ingressar na ordem de Cristo. No entanto, desde cedo recusou prosseguir.
Em 1821 vai para Coimbra e matricula-se no curso de Direito. Ao contacto com os escritores das Luzes acresceu a leitura dos primeiros românticos, enquanto transformava em ardor revolucionário a rápida adesão às ideias liberais. A vivência académica seria determinante na sua iniciação política e filosófica. Ainda estudante, participa no movimento conspirativo que conduziria à revolução de 1820. Paralelamente começava, irreverente, a vocação literária: no ano seguinte surgia o seu primeiro livro, “O Retrato de Vénus”, um corajoso poema que lhe mereceu um processo em tribunal.
Em 1823, após a subida ao poder dos absolutistas, é obrigado a exilar-se em Inglaterra onde inicia o estudo do romantismo, movimento artístico-literário então já dominante na Europa.
Regressa em 1826 e passa a participar na vida política aplicando-se em trabalhos políticos que fixaram as bases de doutrinação liberal por que irá pautar toda a sua posterior carreira de «homem público». 
No período conturbado que se seguiu, o trajecto pessoal do escritor (já casado com uma menina elegante, Luísa Midosi) entrelaça-se com a história política do Liberalismo. A revolução foi um breve momento de entusiasmo liberal, logo desfeito pela chegada ao poder da facção conservadora, que apoiava o Infante D. Miguel.
 
No entanto em 1828 é obrigado a exilar-se novamente depois da contra-revolução de D. Miguel. No entanto, o escritor encontra na circunstância penosa do exílio uma oportunidade intelectualmente vantajosa. A permanência em França e Inglaterra permitiu-lhe conhecer o movimento cultural europeu, na sua dimensão artística e ideológica. A publicação (ainda em Paris) dos poemas Camões e Dona Branca – os primeiros textos românticos portugueses – constitui o resultado mais simbólico e expressivo dessa experiência. Seguiu-se a guerra civil, período em que ao novo rumo do gosto literário junta a pedagogia liberal de uma legalidade constitucional e de uma prática das liberdades, colaborando directamente nos primeiros monumentos legislativos do liberalismo e iniciando-se na carreira diplomática.
Em 1832, na Ilha Terceira, incorpora-se no exército liberal de D. Pedro IV e participa no cerco do Porto. Exerceu funções diplomáticas em Londres, em Paris e em Bruxelas. Após a Revolução de Setembro (1836) foi Inspector-geral dos Teatros e fundou o Conservatório de Arte Dramática e o Teatro Nacional.
Durante os anos 40, sob o regime autoritário de Costa Cabral, Garrett destaca-se na oposição; no entanto, o  entusiasmo e o fervor militante vão-se exaurindo, perante a instabilidade política, o materialismo triunfante e o própria alteração do ideal liberal. Descontente com o suceder da revolução, afasta-se da vida pública em 1847. Desse desencanto patriótico dá testemunho a algumas obras publicadas neste período, o mais fértil da criação literária garrettiana (O Alfageme de Santarém, Frei Luís de Sousa, Viagens na Minha Terra e O Arco de Sant’Ana, por exemplo).
Em 1851 regressa ao Parlamento, já sob a acalmia política da Regeneração. Recebe nesta derradeira fase da vida alguns gestos oficiais de consagração: é feito visconde, em 1851 e nomeado Par do Reino, no ano seguinte; chega ainda a ocupar um cargo ministerial (Negócios Estrangeiros), de que seria demitido pouco tempo depois.
Irá falecer a 9 de Dezembro de 1854, vítima de cancro, em Lisboa, na sua casa situada na actual Rua Saraiva de Carvalho, em Campo de Ourique, depois de uma vida sentimental romanticamente atribulada: um casamento juvenil mal sucedido, com Luísa Midosi; a morte prematura da segunda companheira, Adelaide Pastor, que lhe deixa uma filha ilegítima; e por fim uma paixão infiel, com a Viscondessa da Luz, celebrada em versos escandalosos.
Amante de prazeres materiais, galante e apaixonado, foi sempre um notável actor do palco social romântico, sabendo regressar em seu favor a imagem de dandy cosmopolita que sempre cultivou. No topo de uma carreira brilhante e de uma vida intensamente gozada, Almeida Garrett podia justamente orgulhar-se de ser (palavras suas)  «… um verdadeiro homem do mundo, que tem vivido nas cortes com os príncipes, no campo com os homens de guerra, no gabinete com os diplomáticos e homens de Estado, no parlamento, nos tribunais, nas academias, com todas as notabilidades de muitos países – e nos salões enfim com as mulheres e com os frívolos do mundo, com as elegâncias e com as fatuidades do século.»
 
Obra
Tem o grande mérito de ser o introdutor do Romantismo em Portugal ao nível da criação textual - processo que iniciou com os poemas Camões (1825) e D. Branca (1826).
Ainda no domínio da poesia são de destacar o Romanceiro (recolha de poesias de tradição popular cujo 1.º volume sai em 1843), Flores sem Fruto (1845) e a obra-prima da poesia romântica portuguesa Folhas Caídas (1853) que nos dá um novo lirismo amoroso.
Na prosa, saliente-se O Arco de Sant'Ana (1.º vol. em 1845 e 2.º em 1851), romance histórico, e principalmente as suas célebres Viagens na Minha Terra (1846). Com este livro, a crítica considera iniciada a prosa moderna em Portugal.
E quanto ao teatro, deve mencionar-se Um Auto de Gil Vicente (1838), O Alfageme de Santarém (1841) e sobretudo o famoso drama Frei Luís de Sousa (1844).
Conclusão
Ao elaborar este trabalho verifiquei que Almeida Garrett foi o impulsionador do Romantismo em Portugal e um dos escritores mais completos de toda a história de Portugal.
Almeida Garrett foi o escritor que melhor soube entender o mundo do seu tempo e deu-o a compreender aos futuros.
Um dos interesses deste mesmo homem foi o Romantismo, e as razões por esse mesmo foi a simplicidade, os sentimentos e a espontaneidade.
A arte, para o romântico, não se pode limitar à imitação, mas ser a expressão directa da emoção, da intuição, da inspiração e da naturalidade vividas por ele na hora da criação, anulando, por assim dizer, o perfeccionismo tão elevado pelos clássicos. Não há retoques após a criação para não comprometer a autenticidade e a qualidade do trabalho.
Comprometido com o seu tempo e ansioso de intervir nos destinos do país, Almeida Garrett não foi apenas escritor, mas também cronista, historiador, etnógrafo e crítico consciente. E os seus livros testemunham como poucos a época e o país em que viveu.
Mostro assim, perante este trabalho, os meus conhecimentos por Garrett.»


(texto com algumas alterações)