sábado, 21 de abril de 2012

Biombos Namban no Museu Nacional de Arte Antiga


Biombos Arte Namban
Atribuído a Kano Domi
Japão, 1593-1602, Período Momoyama
Têmpera sobre papel, folha de ouro, seda, laca e metal
Compra, 1954
Inv. 1638-1639 Mov

Piso 2, sala 14
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«Par de biombos, compostos por dois elementos de seis folhas articuladas. Executados numa estrutura leve de engradado em madeira, coberta por sucessivas folhas de papel são, sobre um fundo folha de ouro, pintados a têmpera. O requintado tratamento do reverso confirma que se destinavam a espaços de grande cerimonial. Neles, o pintor narra, de forma sequencial, acontecimentos ligados à presença portuguesa dos portugueses no Japão, aonde aportaram em 1543.
O primeiro biombo reporta-se à chegada do Barco Negro a Nagasáqui. A nau vem carregada de estranha gente e de preciosas e exóticas mercadorias. Pontuada pelo colorido dos trajes recorta-se sobre um mar castanho cujos braços penetram o ouro que funde o céu com a praia, onde é controlado o desembarque da carga.
O segundo biombo descreve o cortejo que se dirige à Casa da Companhia de Jesus, apontada na última folha. A representação da figura humana, casario e paisagem, e o pormenor narrativo - trajes, animais e objectos, imbricam-se através do fundo e da atmosfera de ouro.
Trata-se de uma pintura atribuída ao pintor Kano Domi, que retrata de forma detalhada, aspectos do marcante relacionamento estabelecido durante cerca de um século entre Portugal e o Japão, dando especial destaque à acção proeminente dos Jesuítas.
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Em 1543 os portugueses chegaram ao Japão, iniciando um contacto entre povos que foi, acima de tudo, um encontro de civilizações. Desenvolveu-se a partir dessa data um intercâmbio comercial e cultural que ficou registado nestes dois pares de biombos.
Pensados para compartimentar os espaços, os biombos eram geralmente executados aos pares, compondo-se por um número variável de folhas articuladas cobertas de papel, rematadas por uma fina moldura em laca. Nessas superfícies, o pintor registava, em cores fortes e brilhantes, temas que tinham continuidade narrativa do primeiro para o segundo biombo. Os acontecimentos quotidianos realçados em fundos dourados eram, em regra, o tema preferencial da nova classe dominante japonesa que emergia num período de crescente estabilidade política. Foi em tal contexto que se encomendaram estes biombos. Neles se regista o ambiente festivo e de novidade que representava a chegada do barco negro dos namban jin (os bárbaros do sul, como eram designados os portugueses) ao porto de Nagazaqui.
Num par de biombos, marcado com o selo do pintor Kano Naizen, narram-se, da esquerda para a direita, os preparativos para a saída da nau de um porto que se pretende que seja Goa, intenção sublinhada pela representação de elefantes e de uma arquitectura outra. No biombo da direita, representa-se a chegada da nau ao seu porto de destino no Japão, e o desembarque dos seus preciosos bens, representados com todo o pormenor. Assim, identificam-se perfeitamente as sedas da China, os animais exóticos, e todos os restantes produtos transaccionados pelos portugueses em diversos portos do Oriente, transportados num cortejo encabeçado pelo capitão-mor da nau. Mais à direita, membros de várias ordens missionárias aguardam a chegada desta comitiva junto a uma igreja.
No outro par de biombos, atribuído ao pintor Kano Domi, tendo embora o mesmo tema, a escala é diferente. No biombo da esquerda, negoceia-se numa nau sem velas, enquanto em terra se controla a descarga dos preciosos bens, onde mais uma vez avultam as ricas sedas chinesas em fardo ou em rolo. No biombo da direita, representa-se, liderado pelo capitão-mor, o cortejo em direcção à Casa dos jesuítas. Segue-o um grupo de personagens de ricos trajes, não se omitindo no desfile o cobiçado cavalo persa, a cadeira chinesa, os animais exóticos e os famosos potes vidrados para transportar especiarias.
A minúcia com que são representados os vários intervenientes, a descrição da nau e do seu precioso carregamento e sobretudo a determinante presença dos missionários jesuítas, ultrapassam, pelo seu significado, o próprio registo visual, tornando estas peças num documento ímpar no contexto das relações Portugal - Japão.»
 

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