quinta-feira, 15 de março de 2012

Cenário de correção do teste de avaliação sumativa

I

1. Este excerto surge na sequência da apresentação de Inês Pereira, jovem casadoira com ideias muito próprias. A alcoviteira Lianor Vaz traz-lhe uma carta de um pretendente, Pêro Marques, mas Inês desdenha-a. Ainda assim, aceita que Lianor lhe apresente o lavrador, como vemos nesta cena. Porém, a forma de falar, a apresentação e as maneiras de Pêro Marques não lhe agradam, pelo que Inês o recusa. É então que os Judeus casamenteiros lhe apresentam Brás da Mata, com quem acaba por casar.

2. Pêro Marques é um lavrador desajeitado, quer na forma como escreve (cf. carta), quer na forma como fala, hesitante e sem assunto ("Folguei ora de vir cá..."; "E assi que de maneira..."), quer, ainda, no seu desconhecimento da utilidade das cadeiras. É um proprietário abastado ("E ficamos dous eréos./Porém meu é o mor gado."), mas traz consigo, na primeira entrevista com a pretendida, peias, chocalhos e novelos, isto é, símbolos da sua vivência rústica. Também as pêras - que, ridiculamente, deixa que lhe roubem - remetem para o seu modo de vida rural.
No entanto, Pêro Marques gosta verdadeiramente de Inês ("Parece moça de bem."), preocupa-se com a sua reputação ("Cant'eu quero-me ir daqui,/Não diga algum demo alguém...") e promete-lhe uma fidelidade ("E prometo não casar/Até que vós não queirais") que cumpre.

3. a. Inês Pereira desdenha de Pêro Marques, chamando-lhe, de forma insultuosa, "João das Bestas", rejeitando as peias que ele lhe pede para segurar, duvidando da frescura das pêras (transportadas no capucho) e ironizando acerca da sua forma desajeitada e tímida de galantear.

b. A atitude de Inês Pereira deve-se ao facto de ela ter idealizado um marido discreto, bem falante e que partilhasse o seu gosto por festas.

4. A Mãe é cortês, convidando Pêro Marques a sentar-se e interessando-se pela sua fortuna. A partir do momento em que se apercebe que ele é abastado, sai discretamente de cena, para propiciar o clima amoroso. Trata-se de uma personagem experiente, sensata e pragmática, que conhece bem a filha e lhe tenta incutir cautela e juízo.

5. O cómico de caráter decorre da apresentação e das atitudes de Pêro Marques. O lavrador apresenta-se carregado de coisas inúteis, que o desvalorizam, deixa-se roubar, não tem um discurso convincente, não sabe cortejar Inês e não se apercebe de que esta troça dele.

6. O cómico de situação surge quando Pêro Marques demonstra desconhecer a utilidade da cadeira, sentando-se ao contrário, e quando se preocupa pelo facto de a Mãe (que o fez propositadamente) os deixar sozinhos.

7. Inês é a personagem que recorre mais à ironia, em à-parte ("Ó Jesu! que João das bestas!/Olhai aqule canseira!) ou em discurso direto ("Fresco vinha aí o presente/Com folhinhas borrifadas"). A sua ironia dirige-se exclusivamente a Pêro Marques.

8. O dramaturgo critica algumas franjas da sociedade portuguesa do século XVI. Nesta farsa, em particular, são postos em causa os clérigos que perseguem mulheres;os escudeiros fanfarrões mas cobardes e pelintras; as jovens fúteis e preguiçosas que pretendem ascender na escala social graças ao casamento; e os judeus alcoviteiros ávidos por dinheiro. Do ponto de vista temático, critica-se o materialismo, a ânsia de promoção social e o adultério. Estas críticas são concretizadas graças à criação de tipos sociais, que se envolvem em situações risíveis e    recorrem   a uma linguagem ridícula. Rindo-se, o público toma consciência da degradação de costumes, isto é, "Ridendo castigat mores".




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