Comunidade de leitura virtual dos alunos e professores da turma E do 11º ano da Escola Secundária de Vila Verde **************************************************************************************************************************************************************************************** Disciplina de opção: Literatura Portuguesa
sábado, 9 de março de 2013
quinta-feira, 7 de março de 2013
Visita de estudo virtual
O Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, disponibiliza em linha uma ótima documentação, que pode ser consultada aqui.
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Literatura e outras artes,
Literatura Portuguesa
Um texto "capital" para professores e alunos
Este texto, publicado em http://blogues.publico.pt/pagina23/page/2/ (consultado em 7/3/2013), é para D-E-C-O-R-A-R!!! (... já me viram a escrever pontos de exclamação? Ñão, pois não? Mas este texto justifica-os.)
Para os alunos passarem a escrever melhor, o professor responsável pela aprendizagem não pode apenas atacar os erros ortográficos, mais visíveis e, também, mais fáceis de corrigir, porque se situam à superfície do texto e obedecem, na verdade, a duas dezenas de regras facilmente memorizáveis. Mais difícil, por vezes, é conseguir que os miúdos escrevam frases gramaticalmente aceitáveis e, ainda mais complicado, textos organizados, com ideias logicamente expressas.
Escrever é uma tarefa que implica grande sobrecarga cognitiva. Antes de escrever, o aluno tem que saber muito claramente com que finalidade o faz, para que destinatários, que tipo de texto lhe pedem que produza, sobre que assunto, etc. Se todos estes parâmetros forem claros e estiverem convenientemente definidos, a tarefa, embora difícil sempre, tornar-se-á menos árdua.
O docente deve dotar o aluno que quer tornar competente na escrita de saberes processuais sobre como escrever. Deve, em conjunto com os alunos, preparar bem a tarefa, não apenas a nível da discussão do tema e da preparação do vocabulário específico a utilizar, mas também a nível das características formais da tipologia textual em que se inclui o texto que os alunos vão experimentar produzir. Por outro lado, deve insistir na necessidade de se fazer sempre um plano antes do início da produção escrita e, para que o aluno lhe perceba as vantagens, há que começar por fazer esse plano em conjunto na turma ou grupo, depois, mais tarde, em grupos de dois ou três alunos e, quando cada miúdo já tiver percebido como se faz um plano e que vantagens advêm desse processo para a produção escrita, há que exigir sempre o plano a acompanhar o texto escrito pelo aluno. A partir de certa altura, se este processo correu como devia, o aluno sentirá necessidade de preparar o que vai escrever antes de começar a produzir o seu texto escrito.
Também importa que o “escrevente” se habitue a reler com atenção o que acaba de escrever, o que não é tarefa fácil. Muitas vezes, preocupado só em captar a informação, não “vê”, literalmente, os erros cometidos (às vezes, porque, não tendo deles consciência, nem sabe que são erros). Pode pedir-se ao aluno que, depois de acabar de escrever, faça um resumo, do tipo: “No primeiro parágrafo defendi que… no segundo mostrei que… no terceiro contei um episódio que ilustra que… no quarto concluí, dizendo que…”.
Importa também fornecer aos alunos listas de verificação que os obriguem a olhar de novo para o que escreveram: “Acentuei graficamente todas as palavras esdrúxulas? Verifiquei se, quando separei ‘-mos’ do verbo, este elemento não fazia parte do mesmo, não era a marca da primeira pessoa do plural?”, etc., etc.
Outra tarefa que se pode pedir aos alunos é que sublinhem, no texto que acabaram de escrever, todas as palavras repetidas. Num segundo momento, pede-se-lhes que as passem para uma folha, verificando se a repetição é necessária ou pode ser eliminada: pela substituição do grupo nominal repetido por um pronome, por exemplo, ou do nome por um sinónimo, para referir apenas dois processos simples de eliminar a repetição.
Há tempos, um grupo de três alunos estagiários da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (a realizar estágio em Alfena) apresentou, em seminário, um trabalho interessante. Tratava-se de, a partir de um texto de um aluno e em conjunto, sublinhar as repetições, registando-as num quadro (chamava-se a actividade “Caça à repetição”). Depois, havia que propor a substituição da expressão repetida por um pronome, classificando-o e explicando a razão da substituição. Passado um tempo, foi proposta aos alunos nova tarefa de escrita. De notar que as repetições presentes nos textos eram já menos. Os alunos realizaram uma tarefa semelhante à anteriormente levada a cabo, desta vez em grupos de dois. Mais tarde ainda, o mesmo percurso foi proposto, desta vez em trabalho individual. Acontece que, nesta terceira fase, os alunos faziam já muito poucas repetições indevidas. Caminhou-se, assim, do trabalho mais acompanhado para o individual, procurando que os alunos se fossem tornando progressivamente mais autónomos. Se o caminho proposto se ateve apenas a um ponto muito concreto e definido dos problemas de escrita dos alunos, a verdade é que os resultados foram encorajadores.
De facto, os textos dos nossos alunos são repetitivos, pouco coesos, usam pouca subordinação. Um exercício útil é, a partir de duas frases simples que aparecem uma a seguir à outra (O menino chutou a bola. A bola partiu o vidro), tentar que os alunos formem uma só complexa (O menino chutou a bola que partiu o vidro ou A bola que o menino chutou partiu o vidro; neste caso, a oração subordinada relativa é facto de coesão textual). Estes são passos pequenos. Mas escrever é difícil. Corrigir as produções escritas dos alunos também. Ensinar a escrever é um trabalho de paciência que requer muita atenção e pequenas propostas concretas de treino, que dotem os alunos das destrezas necessárias.»
Isabel Margarida Duarte
«Para que, nos jornais escolares, possam abundar os textos bem escritos e organizados, com ideias logicamente expressas, é preciso não esquecer que há um trabalho prévio a fazer na sala de aula. Para ajudar a que ele se faça convenientemente, no Boletim PÚBLICO na Escola de Abril de 2006, Isabel Margarida Duarte, professora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, apresentava um conjunto de propostas muito concretas. A actualidade das sugestões, ainda mais pertinentes nesta semana em que, em algumas escolas, se tem estado a preparar a celebração, amanhã, do Dia Internacional da Língua Materna, recomenda que aqui o publiquemos de novo.
Para os alunos passarem a escrever melhor, o professor responsável pela aprendizagem não pode apenas atacar os erros ortográficos, mais visíveis e, também, mais fáceis de corrigir, porque se situam à superfície do texto e obedecem, na verdade, a duas dezenas de regras facilmente memorizáveis. Mais difícil, por vezes, é conseguir que os miúdos escrevam frases gramaticalmente aceitáveis e, ainda mais complicado, textos organizados, com ideias logicamente expressas.
Escrever é uma tarefa que implica grande sobrecarga cognitiva. Antes de escrever, o aluno tem que saber muito claramente com que finalidade o faz, para que destinatários, que tipo de texto lhe pedem que produza, sobre que assunto, etc. Se todos estes parâmetros forem claros e estiverem convenientemente definidos, a tarefa, embora difícil sempre, tornar-se-á menos árdua.
O docente deve dotar o aluno que quer tornar competente na escrita de saberes processuais sobre como escrever. Deve, em conjunto com os alunos, preparar bem a tarefa, não apenas a nível da discussão do tema e da preparação do vocabulário específico a utilizar, mas também a nível das características formais da tipologia textual em que se inclui o texto que os alunos vão experimentar produzir. Por outro lado, deve insistir na necessidade de se fazer sempre um plano antes do início da produção escrita e, para que o aluno lhe perceba as vantagens, há que começar por fazer esse plano em conjunto na turma ou grupo, depois, mais tarde, em grupos de dois ou três alunos e, quando cada miúdo já tiver percebido como se faz um plano e que vantagens advêm desse processo para a produção escrita, há que exigir sempre o plano a acompanhar o texto escrito pelo aluno. A partir de certa altura, se este processo correu como devia, o aluno sentirá necessidade de preparar o que vai escrever antes de começar a produzir o seu texto escrito.
Também importa que o “escrevente” se habitue a reler com atenção o que acaba de escrever, o que não é tarefa fácil. Muitas vezes, preocupado só em captar a informação, não “vê”, literalmente, os erros cometidos (às vezes, porque, não tendo deles consciência, nem sabe que são erros). Pode pedir-se ao aluno que, depois de acabar de escrever, faça um resumo, do tipo: “No primeiro parágrafo defendi que… no segundo mostrei que… no terceiro contei um episódio que ilustra que… no quarto concluí, dizendo que…”.
Importa também fornecer aos alunos listas de verificação que os obriguem a olhar de novo para o que escreveram: “Acentuei graficamente todas as palavras esdrúxulas? Verifiquei se, quando separei ‘-mos’ do verbo, este elemento não fazia parte do mesmo, não era a marca da primeira pessoa do plural?”, etc., etc.
Outra tarefa que se pode pedir aos alunos é que sublinhem, no texto que acabaram de escrever, todas as palavras repetidas. Num segundo momento, pede-se-lhes que as passem para uma folha, verificando se a repetição é necessária ou pode ser eliminada: pela substituição do grupo nominal repetido por um pronome, por exemplo, ou do nome por um sinónimo, para referir apenas dois processos simples de eliminar a repetição.
Há tempos, um grupo de três alunos estagiários da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (a realizar estágio em Alfena) apresentou, em seminário, um trabalho interessante. Tratava-se de, a partir de um texto de um aluno e em conjunto, sublinhar as repetições, registando-as num quadro (chamava-se a actividade “Caça à repetição”). Depois, havia que propor a substituição da expressão repetida por um pronome, classificando-o e explicando a razão da substituição. Passado um tempo, foi proposta aos alunos nova tarefa de escrita. De notar que as repetições presentes nos textos eram já menos. Os alunos realizaram uma tarefa semelhante à anteriormente levada a cabo, desta vez em grupos de dois. Mais tarde ainda, o mesmo percurso foi proposto, desta vez em trabalho individual. Acontece que, nesta terceira fase, os alunos faziam já muito poucas repetições indevidas. Caminhou-se, assim, do trabalho mais acompanhado para o individual, procurando que os alunos se fossem tornando progressivamente mais autónomos. Se o caminho proposto se ateve apenas a um ponto muito concreto e definido dos problemas de escrita dos alunos, a verdade é que os resultados foram encorajadores.
De facto, os textos dos nossos alunos são repetitivos, pouco coesos, usam pouca subordinação. Um exercício útil é, a partir de duas frases simples que aparecem uma a seguir à outra (O menino chutou a bola. A bola partiu o vidro), tentar que os alunos formem uma só complexa (O menino chutou a bola que partiu o vidro ou A bola que o menino chutou partiu o vidro; neste caso, a oração subordinada relativa é facto de coesão textual). Estes são passos pequenos. Mas escrever é difícil. Corrigir as produções escritas dos alunos também. Ensinar a escrever é um trabalho de paciência que requer muita atenção e pequenas propostas concretas de treino, que dotem os alunos das destrezas necessárias.»
Se é bom para os jornalistas do "Público", também é bom para nós
A propósito do Dia Internacional da Língua materna, lia-se o seguinte no blogue Página 23:
«O Dia Internacional da Língua Materna, que hoje se celebra, oferece um novo pretexto para chamar a atenção para o facto de os jornais escolares, por muito elementares que sejam, se revelarem instrumentos de uma enorme utilidade para todos os professores que pretendem que os alunos escrevam melhor, algo que a experiência tem amplamente demonstrado.
Sem o bom uso do português e o cumprimento das regras gramaticais, não há bom jornalismo, diz o Livro de Estilo do PÚBLICO. É, por isso, necessário prestar “uma permanente atenção a certos vícios e incorrecções de linguagem”. O rigor da escrita não existe se não se observarem diversas regras. Entre as que são enunciadas no Livro de Estilo, há umas quantas que também podem ser tidas em conta pelos jornalistas escolares. É o caso, por exemplo, das que aconselham a:
Sem o bom uso do português e o cumprimento das regras gramaticais, não há bom jornalismo, diz o Livro de Estilo do PÚBLICO. É, por isso, necessário prestar “uma permanente atenção a certos vícios e incorrecções de linguagem”. O rigor da escrita não existe se não se observarem diversas regras. Entre as que são enunciadas no Livro de Estilo, há umas quantas que também podem ser tidas em conta pelos jornalistas escolares. É o caso, por exemplo, das que aconselham a:
• redigir de forma simples, concisa, clara e precisa;
• preferir a frase afirmativa e o estilo directo;
• recusar a imprecisão e a ambiguidade;
• evitar as repetições, preciosismos, redundâncias, cacofonias, períodos longos e o abuso de intercalares;
• evitar, igualmente, as frases feitas e os lugares-comuns, os chavões e as palavras de ordem;
• seleccionar, hierarquizar e sacrificar o acessório a favor do essencial.»
Lido em http://blogues.publico.pt/pagina23/, consultado em 7/3/2013
Categorias da narrativa: o narrador
Lido em http://criarmundos.do.sapo.pt, consultado em 7/3/2013:
«Uma narrativa é uma história que é narrada. A voz que narra recebe o nome de
narrador, aqueles a quem a história é narrada são designados por
narratário. O narrador, mencionado frequentemente como o sujeito de
enunciação, é um ser ficcional que existe somente na narrativa e não deve
ser confundido com o autor, mesmo quando as duas posições se aproximam. O
termo narratário, pelo contrário, pode-se referir ou não a seres ficcionais.
Uma narrativa destina-se sempre a ser lida, ou ouvida, por um leitor.
Portanto, é ele o destinatário da narrativa, o chamado narratário ou,
para se ser mais explícito, o narratário extradiegético, porque é
exterior à história que se está a narrar. Mas também existem situações onde se
pode encontrar um outro tipo de narratário, um que faz parte integrante da
narrativa. Sempre que o narrador fala para uma personagem, transforma-a
automaticamente no narratário intradiegético.
A posição do narrador no interior da narrativa varia de acordo com a forma
como a sua presença se faz sentir:
- Narrador Participante ou Narrador presente
- Sempre que a figura do narrador participa na história.
- A figura do narrador coincide com a de uma personagem.
- A narração é feita na 1ª pessoa.
- Pode ser:
- Autodiegético
- A figura do narrador coincide com a da personagem principal.
- Geralmente, a história tem um carácter auto-biográfico.
- mnemónica: auto > o eu é automaticamente a figura principal.
- Homodiegético
- A figura do narrador coincide com a de uma personagem secundária.
- mnemónica: homo > o eu fala do homem que é a figura principal.
Narrador Não Participante ou Narrador Ausente
- Sempre que a figura do narrador não participa nem interfere na história.
- A narração é feita na 3ª pessoa.
- É sempre:
- Heterodiegético
- mnemónica: hetero > fala-se sempre dos outros, nunca de nós.
Para além da presença, pode-se avaliar os conhecimentos que o narador possui
sobre o que está a ser narrado. Normalmente fala-se da ciência do
narrador:
- Omnisciente
- Este tipo de narrador "tudo" (omni) "conhece" (sciente); ou seja, é como um deus que tem acesso ao interior das personagens, assim como aos eventos passados e futuros.
- Analisa as acções, os comportamentos, os sentimentos e os pensamentos das personagens.
- As personagens podem ser apresentas de fora para dentro ou de dentro para fora.
Observador
- Este tipo de narrador apenas sabe o que vê (observa), tendo que interpretar as palavras, os silêncios, as atitudes e os gestos das personagens para as conhecer.
- As personagens só podem ser apresentadas de fora para dentro, à medida que o narrador as vai conhecendo.
- Não tem acesso a eventos futuros nem a todos os eventos passados.
- Pode apresentar dois tipos de visão ou focalização:
- focalização externa
- a visão do narrador é de alguém exterior à narrativa
- apresenta os aspectos exteriores das personagens e dos eventos.
- o narrador apenas conhece o que ouve e vê superficialmente.
focalização interna
- a visão do narrador é de alguém inserido na narrativa
No entanto, o narrador pode ainda ser avaliado de acordo com a posição
que toma face às personagens e acontecimentos.
- Objectivo - quando relata as situações de forma imparcial e distanciada.
- Subjectivo - quando se aproxima das situações que está a relatar para dar a sua opinião, julgando, aconselhando, elogiando ou censurando.»
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Com a devida vénia,
Literatura Portuguesa
Caraterísticas do romance neo-realista
Lido em http://auladeliteraturaportuguesa.blogspot.pt/, consultado em 7/3/2013
«1. A acção do romance neo-realista normalmente
é aberta, sem progresso dramático linear, composta em geral por uma acumulação
de factos, de quadros panorâmicos, só ligados entre si pelo narrador e pela
homogeneidade de situações que são muitas vezes encaradas como símbolos. Desta
forma, a intriga de tipo tradicional ou não existe ou corre diluída em
fragmentações do género a reportagem». E, a princípio, muitas obras
neo-realistas nem sequer conseguiam ultrapassar um vulgar nível
panfletário.
2. As personagens são quase sempre colectivas, grupos antagónicos constituídos, de um lado, por representantes do capital e, de outro, por conjuntos de trabalhadores agrícolas e (mais raramente) de operários esmagados pela ganância de uma minoria dirigente, localizados em zonas bem determinadas. A estreita localização destes grupos trouxe para o neo-realismo português uma característica que o não abona: o regionalismo alentejano (só excepcionalmente superado).
Convém, no entanto, ter presente que temas citadinos e outros ligados à burguesia rural, foram tratados também em algumas obras neo-realistas, como O Dia Cinzento de Mário Dionísio, Anúncio de Alves Redol, Casa da Duna e Pequenos Burgueses de Carlos de Oliveira, Fuga de Faure da Rosa.
3. Estas personagens não figuram na acção como caracteres psicologicamente estudados mas apenas como tipos de uma classe. Se há um protagonista que merece destaque, é por ser o mais atingido entre a multidão ou por reflectir as reacções do todo. Por isso, o romance neo-realista abandona a personagem vista nos salões através da psicologia tradicional, para descer à personagem vulgar do campo ou da fábrica, conhecida por processos behavioristas, anotadores de um comportamento externo que se reduz a gestos de protesto social e também a atitudes de revolta contra o fatalismo do meio geográfico. Diante dos factores materiais e das forças sociais que as bloqueiam, as personagens neo-realistas não esboçam qualquer atitude de espiritualidade.
4. O autor observa as situações com neutralidade pelo menos aparente, coloca os protagonistas no ambiente próprio, deixa-os agir e viver uma vida muito real; faz depois «jornalismo», reportagem. Selecciona, no entanto, as situações a analisar e, quando calha, põe-se a interpretar os factos em função do fim que tem em vista. Com efeito, os neo-realistas são radicalmente objectivos, recriando a realidade social. Mas o subjectivismo não lhes é de todo estranho, pois não se limitam a recriar a realidade: orientam-na para transformações profundas com que sonham e em que estão empenhados.
5. Minimizam os neo-realistas o cuidado da forma (que julgam encobrir ou pelo menos esfumar a verdade do romance) e, uma vez ou outra, no afã de retratar a realidade do modo mais simples possível, chegam a descurar as regras gramaticais. Foi neste sentido que a polémica com os presencistas orientou inicialmente a estética da escola. Contra este desprezo da forma insurgiu-se, como dissemos já, Mário Dionísio.
O autor neo-realista gosta de pôr na boca das personagens a linguagem popular regional, como se a tivesse gravado do natural em fita magnética e a repetisse. Leva o diálogo muitas vezes a assumir funções narrativas. Emprega frases curtas, bem adaptadas ao pensamento conciso que o domina. Com tendência para a substantivação do real, usa moderadamente o adjectivo.»
2. As personagens são quase sempre colectivas, grupos antagónicos constituídos, de um lado, por representantes do capital e, de outro, por conjuntos de trabalhadores agrícolas e (mais raramente) de operários esmagados pela ganância de uma minoria dirigente, localizados em zonas bem determinadas. A estreita localização destes grupos trouxe para o neo-realismo português uma característica que o não abona: o regionalismo alentejano (só excepcionalmente superado).
Convém, no entanto, ter presente que temas citadinos e outros ligados à burguesia rural, foram tratados também em algumas obras neo-realistas, como O Dia Cinzento de Mário Dionísio, Anúncio de Alves Redol, Casa da Duna e Pequenos Burgueses de Carlos de Oliveira, Fuga de Faure da Rosa.
3. Estas personagens não figuram na acção como caracteres psicologicamente estudados mas apenas como tipos de uma classe. Se há um protagonista que merece destaque, é por ser o mais atingido entre a multidão ou por reflectir as reacções do todo. Por isso, o romance neo-realista abandona a personagem vista nos salões através da psicologia tradicional, para descer à personagem vulgar do campo ou da fábrica, conhecida por processos behavioristas, anotadores de um comportamento externo que se reduz a gestos de protesto social e também a atitudes de revolta contra o fatalismo do meio geográfico. Diante dos factores materiais e das forças sociais que as bloqueiam, as personagens neo-realistas não esboçam qualquer atitude de espiritualidade.
4. O autor observa as situações com neutralidade pelo menos aparente, coloca os protagonistas no ambiente próprio, deixa-os agir e viver uma vida muito real; faz depois «jornalismo», reportagem. Selecciona, no entanto, as situações a analisar e, quando calha, põe-se a interpretar os factos em função do fim que tem em vista. Com efeito, os neo-realistas são radicalmente objectivos, recriando a realidade social. Mas o subjectivismo não lhes é de todo estranho, pois não se limitam a recriar a realidade: orientam-na para transformações profundas com que sonham e em que estão empenhados.
5. Minimizam os neo-realistas o cuidado da forma (que julgam encobrir ou pelo menos esfumar a verdade do romance) e, uma vez ou outra, no afã de retratar a realidade do modo mais simples possível, chegam a descurar as regras gramaticais. Foi neste sentido que a polémica com os presencistas orientou inicialmente a estética da escola. Contra este desprezo da forma insurgiu-se, como dissemos já, Mário Dionísio.
O autor neo-realista gosta de pôr na boca das personagens a linguagem popular regional, como se a tivesse gravado do natural em fita magnética e a repetisse. Leva o diálogo muitas vezes a assumir funções narrativas. Emprega frases curtas, bem adaptadas ao pensamento conciso que o domina. Com tendência para a substantivação do real, usa moderadamente o adjectivo.»
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Literatura Portuguesa
segunda-feira, 4 de março de 2013
Cenário de correção do teste de avaliação
Cenário de resposta
1. Iniciando-se
com uma notação temporal, “Faz frio”, o poema prossegue com uma descrição, em
forma de reportagem, de episódios da vida da cidade, que o sujeito lírico relata
no presente do indicativo: “(…) os calceteiros (…) calçam (…) a rua.”, “gritam
as peixeiras”, “luzem uns barracões”
ou “tomam por outra parte os
viandantes”. Atento à realidade circundante, o sujeito poético recorre a formas
verbais - conjugadas no mesmo tempo e modo verbal - que denotam a deambulação: “Eu
tudo encontro alegremente exacto” e
“(…) um pára enquanto eu passo”. A crónica urbana
prossegue com a “brusca” aparição de uma figura feminina individualizada. O
eu-repórter informa-nos que se trata de uma atriz que trabalha à noite e que “Caminha
agora para o seu ensaio”.
2. Trata-se
de uma manhã (cf. estrofe 3, verso 3) de Dezembro, fria (cf. estrofe 1, verso 1
e estrofe 2, verso 3 entre outros) (cf. estrofe 15, verso 4) mas luminosa (cf.
estrofe 1, verso 2, estrofe 2, verso 2, entre outros).
3.1 As peixeiras
e os calceteiros representam o povo. As primeiras são caraterizadas graças a
sensações auditivas (“gritam”) e de movimento (“Em pé e perna, dando aos rins
que a marcha agita”). Os segundos começam por ser descritos com recurso a
sensações visuais, onde os adjetivos se sucedem (“terrosos e grosseiros”,
“duros, baços”) e de movimento (“Com lentidão”, “morosos”). Um pouco acima na
escala social encontra-se o mestre, que, “com um ar ralaço/ E manso”, vigia os
trabalhadores. O próprio eu poético, “flâneur” ocioso que frequenta os teatros
onde a “actrizita” se apresenta, personifica a burguesia urbana.
3.2. Os
calceteiros são equiparados a animais de carga: “Homens de carga! Assim as
bestas vão curvadas!”. Em contraponto, a figura feminina é um animal gracioso
(“um perfil direito que se aguça; /E ar matinal de quem saiu da toca, / Um
afigura fina”) face aos calceteiros, “(…) animais
comuns (…) /Eles, bovinos, másculos, ossudos,/Encaram-na sanguínea,
brutamente”). Tanto num caso como noutro, trata-se de uma perspetiva disfórica.
Porém, o eu poético apieda-se dos trabalhadores braçais "Que vida tão custosa!
Que diabo!” e demoniza a figura da atriz
“O demonico arrisca-se, atravessa/Covas, entulhos, lamaçais (…)/ Com
seus pezinhos rápidos, de cabra!”.
3.3. Os trabalhadores braçais são oriundos do campo
(“Os filhos das lezírias, dos montados; / Os da planície,altos, aprumados; /Os
das montanhas, baixos trepadores”), enquanto o eu poético, a “atrizita” e os
viandantes representam a cidade, cujo processo de urbanização está em curso.
Como frequentemente sucede em Cesário Verde, irrompem, na cidade, breves
apontamentos camprestes, como sucede com os “Quintalórios velhos com parreiras”,
associados à “gente pobrezita”. O próprio observador, inspirado pelo bucolismo,
“a friagem (…) / Os ares, o caminho”, afirma que lhe sabe a “campo, a lenha, a
agricultura”.
4.
Neste excerto são notórios os contrastes
sociais, patentes na humildade dos trabalhadores braçais face aos ociosos ou à
“actrizita”, envolta no seu casaco à russa. A profissão desta última permite ao
eu poético inserir nesta descrição diurna e solar (“Vibra uma imensa claridade
crua.”) um apontamento noturno (“A actriz que tanto cumprimento / E a quem, à
noite, na plateia, atraio / Os olhos lisos como polimento!”). Registe-se, por
último, a oposição entre a cidade e o campo, que podemos inferir na “longa rua”
que está a ser calcetada e nos “barracões de gente pobrezita”, que ainda mantêm
uns “quintalórios velhos com parreiras”.
5.
O poema abunda em sensações visuais, olfativas,
táteis, auditivas e de movimento. A visão é convocada pelas notações
atmosféricas, como “Uma imensa claridade crua”, “o descoberto Sol”, “as poças
de água” que refletem a “molhada casaria”, e cujos “charcos brilham”; bem como pelas descrições
dos calceteiros, “terrosos” (…), dos corpos das peixeiras, da “actrizita” e dos
quintalórios. Há sensações táteis nas “calosas mãos gretadas”, olfativas no
cheiro “a fogo, a sílex, a ferragem” e de paladar no sabor “a campo, a lenha, a
agricultura”. As inúmeras sensações de movimento das classes trabalhadoras (as
peixeiras que “dão aos rins”, os calceteiros e os cavadores no seu labor surgem
em contraponto com a lentidão do mestre e a súbita aparição da atriz:
“bruscamente”). Se as peixeiras, numa notação auditiva, “gritam”, o ferro e a
pedra “retinem alto pelo espaço fora / Com choques rijos, ásperos, cantantes”.
Esta abundância sensorial é referida pelo eu poético, quando afirma “Lavo,
refresco, limpo os meus sentidos. / E tangem-me, excitados, sacudidos, / O
tacto, a vista, o ouvido, o gosto, o olfacto!”.
6.
O texto pode ser dividido em três partes. Na
primeira, que se conclui na sexta estrofe (inclusive), o eu poético descreve o
tempo atmosférico, o labor dos calceteiros e o cenário (quintais, alvenaria)
que os circunda. Na segunda, circunscrita entre a sétima e a décima primeira
estrofes, surge claramente, graças à irrupção do pronome pessoal eu e de formas verbais conjugadas na
primeira pessoa (Lavo, refresco, limpo, tangem-me, pede-me…), o sujeito poético
implica-se no texto e no cenário e inscreve o seu corpo, que deambula, entre os
dos restantes figurantes (“(…) um pára enquanto eu passo”). A partir da décima
segunda estrofe, surge, introduzida pelo advérbio bruscamente, uma nova figura, que contrasta ainda mais com as
anteriores, a atriz, que, “desempenhando o seu papel na peça” pisa o chão que
os calceteiros ainda não pavimentaram. Esse contraste, de género
(masculino/feminino), de proveniência (rural/urbano), de tipologia de trabalho (braçal/não
braçal) e de classe (povo/burguesia) surge marcado pela conjunção porém.
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