segunda-feira, 11 de junho de 2012

Cenário de correção do teste de avaliação sumativa


I

1.       Os sentimentos da figura feminina encontram correspondência nas suas atitudes. Assim, à saudade corresponde a pergunta, duas vezes repetida “- Vistes lá o meu amor?”; à sua obsessão pelo amado (“Posto o pensamento nele”) correspondem o canto e os suspiros; tentando “suspender (…) sua dor”, põe as mãos no rosto e olha para o chão. Como, de algum modo, se compraz no seu tormento (“Que não quer que a dor se abrande”), não chora. Essa atitude é reservada para o momento em que sabe novas do seu amor, e então verte lágrimas de alegria.



2.       Esta cantiga apresenta muitas semelhanças com uma cantiga de amigo: desde logo, o cenário (a fonte) e o objeto de uso quotidiano (a talha); a personagem principal, uma jovem que, embora não corresponda ao sujeito poético, assume o sofrimento  amoroso (“coita de amor”) e coloca uma pergunta em estilo direto às personagens secundárias, amigas e confidentes da jovem. A simplicidade e repetição presentes na composição poética reforçam o efeito de arcaísmo.





3.       O estado emocional de Lianor é reforçado pela insistência em vocábulos relacionados com o sofrimento (formas do verbo chorar, e os nomes lágrimas, suspiros, dor, mágoa), os quais são, por vezes, objeto de repetição.



Com o gerúndio são obtidos dois efeitos: um primeiro, mais usual, de simultaneidade (“Lavando a talha e chorando/Às amigas perguntando”). Mas, à medida que o poema se desenvolve, o que predomina é a ideia de que a ausência do amado nunca abandona Lianor, e de que esse sentimento é prolongado no tempo: (“Nisto estava Lianor / o seu desejo enganando / às amigas perguntando”), de tal forma que a inquirição assume um registo obsessivo: “Despois que de seu amor / soube novas perguntando”.



A insistência nas palavras relacionadas com o sofrimento amoroso, o facto de Lianor colocar obsessivamente a mesma questão, a circunstância de o choro, de tão intenso, a cansar - mas de, paradoxalmente, aumentar a dor quando pára - atinge o ponto culminante na afirmação hiperbólica “Mais pesada sente a dor”. Até este ponto, o sofrimento de Lianor é cada vez mais intenso. Porém, a interrogação inicial de Lianor “- Vistes lá o meu amor?” obtém finalmente uma resposta afirmativa “Despois que de seu amor / soube novas perguntando”, que leva o sujeito poético a exclamar “De improviso a vi chorando. Olhai que extremos de dor!”. Assim, o estado emocional de Lianor é tão frágil, que até a alegria a faz chorar.



4.       Trata-se de uma cantiga iniciada com um mote de quatro versos onde o tema é brevemente apresentado. O desenvolvimento em três voltas de oito versos complexifica o mote. Os versos de sete sílabas (ou seja, em redondilha maior) apresentam rima interpolada (abba) e emparelhada (bb).

II

1.1. Evocando uma vida aventurosa, cheia de “trabalhos e perigos”, vivida primeiro na Pátria e, depois, nas partes da Índia, o narrador faz uma introdução genérica ao livro, chamando, simultaneamente, a atenção dos leitores para o facto de estarmos perante um relato de viagens, subgénero literário de grande sucesso na época.



1.2. Esta forma de dedicatória integrada no texto serve para conferir  autenticidade ao relato: se é algo que lega aos filhos, não faria sentido mentir. Por outro lado, os perigos por que passou não parecem, no final da vida, ter-lhe valido outra fortuna que não o facto de lhe “(…) conservar a vida para que eu pudesse fazer esta (…) escritura (…)”, razão pela qual é a “herança” que lhes deixa.



1.3.  O autor qualifica pejorativamente o seu texto como “rude e tosca escritura” para mostrar modéstia e captar a benevolência dos leitores.



2.       A palavra peregrinação remete, em primeiro lugar, para uma romagem a lugares santos e de devoção. Em Fernão Mendes Pinto, porém, e dada a ausência de intuitos devotos da maior parte das suas aventuras, o vocábulo alude aos muitos perigos por que o (anti-)herói passou. Ainda assim, convém realçar que, numa fase mais tardia, Fernão Mendes Pinto conhece e é influenciado por S. Francisco Xavier, o que o leva, a dado ponto, a ser mandatado, pela Companhia de Jesus, para uma missão evangelizadora no Japão.



3.       Uma das caraterísticas mais interessantes – e mais raras, atendendo à época em que viveu – em Fernão Mendes Pinto, é a sua atenção ao Outro. É frequente vê-lo elogiar a organização de outros povos. Curioso e atento aos usos e costumes de outros povos, não se coloca, como muito outros europeus, como um civilizado face a povos bárbaros.



Este episódio relata, com humor, o oposto: as damas do reino do Bungo zombam dos visitantes, que comem com as mãos, o que é tido por “muito grande sujidade”.

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