segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Se servem para os políticos, também servem para o 10ºG

 

«Os conectores mais utilizados no discurso político


[Pergunta] Queria perguntar quais são os conectores de discurso mais utilizados no discurso político? Quais as características e estrutura do discurso político? Estas perguntas relacionam-se com o programa escolar de 11.º ano – Português.

Vera Costa, Estudante, Porto, Portugal

[Resposta] O discurso político é um texto argumentativo e, como tal, apresenta a estrutura e características desta tipologia textual. O texto pode ser estruturado da seguinte forma:
Introdução: Contém a tese inicial — o ponto de vista ao qual o autor do texto quer fazer aderir o leitor —, que deve ser formulada de forma clara e objetiva.
Desenvolvimento ou corpo da argumentação: Apresenta os argumentos, que se destinam a apoiar ou a refutar a tese inicial. Pode ser organizada em parágrafos, de tal forma, que cada um deles contenha uma ideia inicial. Os argumentos devem manter entre si uma ordem e uma coerência que permitam seguir com clareza o desenvolvimento do raciocínio do argumentador.
Conclusão: Retoma a tese que se procurou provar com a exposição de argumentos.
Os argumentos a apresentar podem ser de vária ordem:
Argumentos naturais — também chamados argumentos de autoridade, incluem, entre outros, os textos das leis e as opiniões emitidas por pessoas de prestígio e entendidas na matéria sobre a qual versa o argumento;
Verdades ou princípios universais — aceites, como tal, por todos;
Exemplos — apresentação de uma situação semelhante àquela de que se está a falar.
O uso adequado dos conectores permite marcar com clareza o desenvolvimento do raciocínio e dar coesão ao texto. Conforme a relação de ideias que se pretende estabelecer, eles podem ser de:
Adição: Não só… mas também; por um lado… por outro
Certeza: é evidente que, certamente, com toda a certeza
Conclusão: em conclusão, em suma, enfim, logo, portanto
Dúvida: é provável, possivelmente, porventura
Explicitação/particularização: quer isto dizer, não se pense que
Fim/intenção: com o intuito de, com o objetivo de
Causa: uma vez que, dado que
Conseqüência: de modo que, de tal forma que
Chamada de atenção: note-se que, veja-se, tenha-se em atenção que
Confirmação: com efeito, como vimos, efetivamente
Exemplificação: por exemplo, isto é, como se pode ver, é o caso de
Hipótese/condição: se, a menos que, admitindo que
Seqüência temporal: em primeiro lugar, em seguida, depois, seguidamente
Opinião: a meu ver, estou em crer que, em nosso entender, parece-me que
Oposição/contraste: no entanto, contudo, porém, todavia
Semelhança: assim como, pela mesma razão
Síntese/resumo: por outras palavras, ou melhor, ou seja
O discurso político deve ser persuasivo e sedutor, servindo-se, para tal, de recursos de estilo, como metáforas, imagens, jogos de palavras, hipérboles, perguntas retóricas, construções paralelísticas, etc.
Bom trabalho!

Maria João Matos, 04/11/2008»

(Transcrito de www.ciberduvidas.com/, 14/11/2011)

A estrutura da argumentação segundo o Ciberdúvidas

«A estrutura da argumentação

[Pergunta] Gostaria de saber como deve ser estruturada a argumentação (conectores mais utilizados; sequência lógica deste tipo de texto).

Cecília Andrade, Professora, Santa Cruz, Portugal

[Resposta] 1. O texto argumentativo — ou sequência discursiva de tipo argumentativo1 — observa sempre dois movimentos: defesa da veracidade ou justeza de um estado de coisas (conclusão, C) e apresentação de razão (argumento, A).
A ordenação no textos destes dois movimentos pode ser sequencial (A-C ou C-A) ou entrosada (A-C-A-C; C-A-C-A) e cada movimento pode ser simples (se integra apenas um ato de composição textual2) ou complexo (se integra vários atos de composição textual). A transição A-C assenta numa garantia ou pressuposto, que vai beber ao senso comum e à tábua de valores socialmente aceite.
Basicamente, a sequência argumentativa responde à pergunta «Porque é que dizes isso?», mesmo que esta pergunta não seja (como muito frequentemente não é) explicitamente realizada.
Vejamos duas possibilidades de redução máxima dos dois movimentos constitutivos da argumentação.

Zé: «As salas de aula devem ter as mesas dispostas em U.» = Conclusão
«Digo isto porque, assim, alunos e professor podem dialogar melhor.» = Argumento

«Todos dialogam melhor» (Argumento) «O diálogo na sala de aula é fundamental» (Pressuposto) «Disposição em U, sim» (Conclusão)

Maria: «As salas de aula não devem ter as mesas dispostas em U.» = Conclusão
«Digo isto porque, assim, os alunos são tentados a copiar nos testes.» = Argumento

«Os alunos podem copiar» (Argumento) «Copiar nos testes é prejudicial» (Pressuposto) «Disposição em U, não» (Conclusão)

2. A sequência argumentativa não tem conectores privativos. Aqueles que têm alta probabilidade de ocorrência são os conectores que estabelecem relação de causa (porque, dado que, visto que); de consequência (daí que, por isso, portanto), de expansão de tópico (com efeito, sem dúvida, efectivamente), de relação de semelhança (do mesmo modo, igualmente), de exemplificação (por exemplo, particularmente, designadamente, nomeadamente), de conclusão (por todas estas razões, em síntese, definitivamente).
1 Verifica-se que, nos discursos reais, o mais provável é uma produção textual contemplar sequências de diferentes tipologias: o gênero do discurso publicitário pode contemplar sequências explicativas e argumentativas; o gênero do discurso narrativo pode integrar sequências descritivas e argumentativas; por sua vez, o sermão integra sequências narrativas, descritivas e argumentativas, entre outros exemplos possíveis.
2 São atos de composição textual a planificação, a reformulação, a avaliação, a clarificação, a reorganização, reorientação, o relançamento, a condensação, a réplica, a retoma, a elaboração, a generalização, a analogia, a ilustração, etc., sendo que os tipos de articulações privilegiados são a implicação, a condicionalidade e a causalidade.

Ana Martins, 26/03/2010»

(Transcrito de www.ciberduvidas.com/, 14/11/2011)

A argumentação segundo o Ciberdúvidas

 

«Argumentação


[Pergunta] Como posso construir um texto argumentativo?
Com as diferentes divisões, introdução, desenvolvimento...

Paula, Portugal

[Resposta] Em primeiro lugar, necessita definir bem o âmbito do problema, como se recomenda sempre. Presumo que pretende fazer uma argumentação e não uma dissertação. Numa dissertação, o objetivo é expor idéias em que não há opiniões divergentes conhecidas (ex. de tema: `A Terra gira à volta do Sol.´). Numa argumentação, emitimos uma opinião, sabido que há outras diferentes. O que distingue a argumentação é justamente haver divergências, e nós pretendermos influenciar e convencer (ex. de tema: `Na Aldeia Global, o novo acordo ortográfico seria útil para a lusofonia.´).
Podemos, em resumo, seguir depois os seguintes passos:
  1. Tema - Iniciar com uma proposição sucinta, que exprima exatamente a opinião que vamos defender, sem ambigüidades.
  2. Defesa dessa proposição, definindo limites e aceitando preliminarmente princípios de outras opiniões que não contrariem a nossa (ou elogio pessoal sobre quem vamos contraditar...). Usam-se então expressões como: `em parte é aceitável, mas´ ..... Depois refutação, ponto por ponto e uma por uma, de todas as opiniões que se opõem à nossa. Nesta refutação, é necessário apresentar dados concretos. A escolha dos fatos indesmentíveis, dos exemplos práticos conhecidos, dos dados estatísticos fiáveis deve ser feita por forma a que se estabeleça, sem dúvidas, `a evidência do que afirmamos´ (contra fatos não há argumentos). E é preciso muito cuidado nesta escolha, pois a argumentação contrária tende a centralizar-se nos fatos duvidosos, para solapar a `base da estrutura´ da nossa tese.
  3. Conclusão - Como se deve fazer sempre também, não esquecer de voltar ao tema, para concluir a argumentação. E não se trata de repetir simplesmente a proposição, mas expô-la agora, embora sucintamente, mais enriquecida com a síntese de alguns dos argumentos referidos na fase 2. Apresente esta conclusão duma maneira clara e convicta. Usam-se então expressões do tipo: `por todas as razões apontadas, eu estou firmemente convencida/o de que .....´ E a ética recomenda que se esteja mesmo convencida/o... Os especialistas da `inverdade´ conseguem parecer convencidos quando não o estão, mas para quem não tem esse talento ou disposição moral, lembro que a convicção genuína empolga e contagia (como já escrevi noutra resposta, entusiasmo vem do grego `enthousiasmós´, que significa inspiração divina).
    Consulente Paula, estas são as bases do texto argumentativo; e eu podia ficar por aqui. No entanto, não resisto a dar-lhe mais um conselho, fruto da minha experiência.
    Vencer uma argumentação tem um objetivo. Claro que pode ser, unicamente, dar satisfação ao nosso ego, por ter vencido. Mas o trabalho de argumentar tem freqüentemente fins mais pragmáticos: pretendemos que seja realizada alguma coisa. E, então, é indispensável uma última e fundamental fase. Se tivermos conseguido convencer com a nossa argumentação as pessoas que nos julgam, ou a assembléia que nos ouviu pelos votos que deu, não devemos preparar só a argumentação; mas, sim, pensar como é que o nosso objetivo pode ser realizado. Se há uma grande probabilidade de que os nossos argumentos irão convencer, esse passo pode ser incluído no texto, e, até, trazer-nos mais apoiantes:
  4. Ação - Indicar, afinal, o que é necessário ter (meios) e fazer (trabalhos) para realizar o que defendemos. Mas não esquecer de propor datas para essa realização e, eventualmente, o plano das suas fases. Incluir a forma de verificar e corrigir atrasos. Finalmente, numa fase posterior, pedir responsabilidades e considerar penalidades a atribuir, se indispensáveis.

D´Silvas Filho, 09/12/1999»

(Transcrito de www.ciberduvidas.com/, 14/11/2011)

O que é... cantiga de escárnio e de maldizer?


«CANTIGA DE ESCÁRNIO E CANTIGA DE MALDIZER – A cantiga de escárnio é aquela em que a sátira se constrói indiretamente, por meio da ironia e do sarcasmo, usando “palavras cobertas, que hajam dois entendimentos para lhe lo não entenderem”, como reza a Poética Fragmentária que precede o Cancioneiro da Biblioteca Nacional (antigo Colocci-Brancuti). Na de maldizer, a sátira é feita direta­mente, com agressividade, “mais descobertamente”, com “palavras que querem dizer mal e não haverão outro entendimento senão aquele que querem dizer chãmente”, como ensina a mesma Poética Fragmentária.
Essas duas formas de cantiga satírica, não raro escritas pelos mesmos trovadores que compunham poesia lírico-amorosa, expressavam, como é fácil depreender, o modo de sentir e de viver próprio de ambientes dissolutos, e acabaram por ser canções de vida boemia e escorraçada, que encontrava nos meios frascários e tabernários seu lugar ideal. A linguagem em que eram vazadas admitia, por isso, expressões licenciosas ou de baixo-calão: poesia “maldita”, descambando para a pornografia ou o mau gosto, possui escasso valor estético, mas em contra­partida documenta os meios populares do tempo, na sua linguagem e nos seus costumes, com uma flagrância de reportagem viva.» Massaud Moisés, A literatura portuguesa

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Modernices

Pronto, está bem, talvez tenha exagerado no texto anterior. Mas enquanto não inventarem um "tablet" de significados, proponho-vos um glossário. Embora com um ar mais "chique" e mais moderno, o vocábulo designava, na Idade Média, «(...) a reunião, na parte final de um manuscrito ou coligida num volume próprio, de anotações (...) sobre o sentido de palavras antigas ou obscuras encontradas nos textos». 



Mas é a acepção de «conjunto de termos de uma área do conhecimento e os seus significados» que me interessa: na parte final do caderno de cada uma das disciplinas deverão escrever o vocabulário que o(a) professor(a) de cada disciplina emprega, oralmente e por escrito, bem como as palavras que vão surgindo nos textos em estudo.
Citações do volume IV (p. 1893) do Dicionário Houaiss

Estudar com eficácia III


Eu sei que se vão rir. Tenho a certeza absoluta de que nos últimos duzentos anos nenhum outro professor recomendou isto aos alunos, mas não quero saber e vou recomendar um... caderno de significados.
Um caderno de significados - um caderninho de significados - é um livrinho cujas páginas são divididas em duas colunas. Do lado esquerdo anotavam-se as outrora palavras desconhecidas. Do lado direito escreviam-se os respectivos significados. E porque escrevi eu "outrora" palavras desconhecidas? É que depois deste processo as aprendemos. Por isso, quando se rirem de mim, lembrem-se das inúmeras palavras que eu conheço graças a este método obsoleto... mas eficaz.

Estudar com eficácia II

Dando as minhas voltinhas pela turma, já vi que há alunos que já adoptaram uma das regras (digamos: a n.º 3) para estudar com eficácia: tirar bons apontamentos. Os bons apontamentos não são úteis apenas para o estudo, eles têm uma vantagem  que apelidaria... "terapia ocupacional": temos os dedos ocupados, não nos podemos dar ao luxo de nos distrairmos, porque, de contrário, lá se vão os apontamentos. Uma pedagogia de lápis na mão, básica mas eficaz. 
Quanto ao lápis propriamente dito, já sabem que sou adepta. Enganámo-nos? Corrigimos. Encontrámos uma palavra mais adequada? Alteramo-la.

Maravilhas tecnológicas

O Cancioneiro da Ajuda


 
O Cancioneiro da Biblioteca Nacional


O Cancioneiro da Vaticana


O Pergaminho Sharrer


Se clicarem no site-que vale-ouro (http://cantigas.fcsh.unl.pt/manuscritos.asp), poderão f-o-l-h-e-a-r
os manuscritos.

O que é... cantiga de amor?

Nobre, jogral tocando harpa


«Neste tipo de cantiga, o trovador empreende a confissão, dolorosa e quase elegíaca, de sua angustiante experiência passional frente a uma dama inacessível aos seus apelos, entre outras razões porque de superior estirpe social, enquanto ele era, quando muito, fidalgo decaído. Uma atmosfera plangente, suplicante, de litania, varre a cantiga de ponta a ponta. Os apelos do trovador colocam-se alto. num plano de espiritualidade, de idealidade ou contemplação platônica, mas entranham-se-lhe no mais fundo dos sentidos; o impulso erótico situado na raiz das súplicas transubstancia-se, purifica-se, sublima-se. Tudo se passa como se o trovador “fingisse”, disfarçando com o véu do espiritualismo, obediente às regras de conveniência social e da moda literária vinda da Provença, o verdadeiro e oculto sentido das solicitações dirigidas à dama. A custa de “fingidos” ou incorrespondidos, os estímulos amorosos transcendentalizam-se: repassa-os um torturante sofrimento interior que se segue à certeza da inútil súplica e da espera dum bem que nunca chega. É a coita (= sofrimento) de amor, que, afinal, ele confessa.
As mais das vezes, quem usa da palavra é o próprio trovador, dirigindo-a com respeito e subserviência à dama de seus cuidados (mia senhor ou mia dona = minha senhora), e rendendo-lhe o culto que o “ser­viço amoroso” lhe impunha. E este orienta-se de acordo com um rígido código de comportamento ético: as regras do “amor cortês”, recebidas da Provença. Segundo elas, o trovador teria de mencionar comedida-mente o seu sentimento (mesura), a fim de não incorrer no desagrado (sanha) da bem-amada; teria de ocultar o nome dela ou recorrer a um pseudônimo (senhal), e prestar-lhe uma vassalagem que apresentava quatro fases: a primeira correspondia à condição de fenhedor, de quem se consome em suspiros; a segunda é a de precador, de quem ousa declarar-se e pedir; entendedor é o namorado; drut, o amante. O lirismo trovadoresco português apenas conheceu as duas últimas fases, mas o drut (drudo em Português) se encontrava exclusivamente na cantiga de escárnio e maldizer- Também a senhal era desconhecida de nosso trovadorismo- Subordinando o seu sentimento às leis da corte amorosa, o trovador mostrava conhecer e respeitar as dificuldades interpostas pelas convenções e pela dama no rumo que o levaria à consecução dum bem impossível- Mais ainda: dum bem (e “fazer bem” significa corresponder aos requestos do trovador) que ele nem sempre desejava alcançar, pois seria pôr fim ao seu tormento masoquista, ou inicio dum outro maior. Em qualquer hipótese, só lhe restava sofrer, indefinidamente, a coita amorosa.
E ao tentar exprimir-se, a plangência da confissão do sentimento que o avassala, — apoiada numa melopéia própria de quem mais murmura suplicantemente do que fala —, vai num crescendo até a última estrofe (a estrofe era chamada na lírica trovadoresca de cobra; podia ainda receber o nome de cobla ou de talho). Visto uma idéia obsessiva estar empolgando o trovador, a confissão gira em torno dum mesmo núcleo, para cuja expressão o enamorado não acha palavras muito variadas, tão intenso e maciço é o sofrimento que o tortura. Ao contrário, a corrente emocional, movimentando-se num círculo vicioso, acaba por se repetir monotonamente, apenas mudado o grau do lamento, que aumenta em avalanche até o fim. O estribilho ou refrão, com que o trovador pode rematar cada estrofe, diz bem dessa angustiante idéia fixa para a qual ele não encontra expressão diversa.
Quando presente o estribilho, que é recurso típico da poesia popular, a cantiga chama-se de refrão- Quando ausente, a cantiga recebe o nome de cantiga de maestria, por tratar-se dum esquema estrófico mais complexo, intelectualizado, sem o suporte facilitador daquele expediente repetitivo.» Massaud Moisés, A literatura portuguesa

O que é... cantiga de amigo?

Nobre, jogral com viola de arco, jogral com harpa

Escrita (...) pelo trovador que compõe cantigas de amor, e mesmo as de escárnio e maldizer, esse tipo de cantiga focaliza o outro lado da relação amorosa: o fulcro do poema é agora representado pelo sofrimento amoroso da mulher, via de regra pertencente às camadas populares (pastoras, camponesas, etc.). O trovador, amado incondicionalmente pela moça humilde e ingênua do campo ou da zona ribeirinha, projeta-se-lhe no íntimo e desvenda-lhe o desgosto de amar e ser abandonada, em razão da guerra ou de outra mulher. O drama é o da mulher, mas quem ainda compõe a cantiga é o trovador: 1) pode ser ele precisamente o homem com quem a moça vive sua história; o sofrimento dela, o trovador é que o conhece, melhor do que ninguém; 2) por ser a jovem analfabeta, como acontecia mesmo às fidalgas.
O trovador vive uma dualidade amorosa, de onde extrai as duas formas de lirismo amoroso próprias da época: em espírito, dirige-se à dama aristocrática; com os sentidos, à camponesa ou à pastora. Por isso, pode expressar autenticamente os dois tipos de experiência passional, e sempre na primeira pessoa (do singular ou plural), 1) como agente amoroso que padece a incorrespondência, 2) como se falasse pela mulher que por ele desgraçadamente se apaixona. É digno de nota que essa ambigüidade, ou essa capacidade de projetar-se na interlocutora do episódio e exprimir-lhe o sentimento; extremamente curiosa como psicologia literária ou das relações humanas, não existia antes do trovadorismo nem jamais se repetiu depois.
No geral, quem ergue a voz é a própria mulher, dirigindo-se em confissão à mãe, às amigas, aos pássaros, aos arvoredos, às fontes, aos riachos, O conteúdo da confissão é sempre formado duma paixão in­transitiva ou incompreendida, mas a que ela se entrega de corpo e alma. Ao passo que a cantiga de amor é idealista, a de amigo é realista, traduzindo um sentimento espontâneo, natural e primitivo por parte da mulher, e um sentimento donjuanesco e egoísta por parte do homem.
Uma tal paixão haveria de ter sua história: as cantigas surpreendem “momentos” do namoro, desde as primeiras horas da corte até as dores do abandono, ou da ausência, pelo fato de o bem-amado estar no fossado ou no bafordo, isto é, no serviço militar ou no exercício das armas. Por isso, a palavra amigo pode significar namorado e amante.
A cantiga de amigo possui caráter mais narrativo e descritivo que a de amor, de feição analítica e discursiva. E classifica-se de acordo com o lugar geográfico e as circunstâncias em que decorrem os acontecimentos, em serranilha, pastorela, barcarola, bailada, romaria, alba ou alvorada (surpreende os amantes no despertar dum novo dia, depois de uma noite de amor).» Massaud Moisés, A literatura portuguesa (transcrito de http://www.coladaweb.com/literatura/trovadorismo em 8/11/2011)

Um sítio que vale ouro




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